A consultora de Recursos Humanos do Grupo Catho, Gláucia Santos, não tem dados concretos para dizer o principal motivo que leva as mulheres a deixar o mercado de trabalho. Mas, pelos anos de experiência, afirma com toda a propriedade que os filhos estão no topo da lista. A operadora de mesa de uma corretora de valores, Solange Regina Garcia, 45 anos, ficou fora do mercado de trabalho por 10 anos. Aos 33, ela viveu um dilema vivido por muitas mulheres: lutar para ser uma profissional bem-sucedida ou abandonar tudo para cuidar da família. Solange ficou com a segunda opção. Quando a filha de Solange nasceu, há 11 anos, ela conseguiu conciliar a vida profissional com a de mãe e dona de casa nos primeiros seis meses. “Mas fui percebendo que estava ficando cada vez mais mãe, embora uma ‘banda’ gritasse lá dentro: ‘você tem de trabalhar’.” O lado mãe, no entanto, clamou mais forte. Solange acredita que essa divisão de sentimentos é um pouco inerente à sua geração. “Minha geração tem certo Complexo de Cinderela. Comecei a trabalhar muito cedo, aos 11 anos, numa oficina de costura. Mas tem a chamada de dentro, de querer ter uma família. Cheguei aos 30 anos e aí bateu a vontade de ter filhos.” Divorciada e com a filha já crescida, Solange pensou “e agora?”, e decidiu voltar ao mercado de trabalho. Isso há três anos. “Como sou da área comercial, não tive muita dificuldade em voltar”, afirma. No período em que ficou afastada, não perdeu o contato com as pessoas que conhecia do seu ramo, o que, na opinião dela, ajudou, e muito, o retorno. A dona de casa Simone Passador Iotti, 36 anos, decidiu abrir mão da vida profissional por vários fatores, mas o principal deles é a profissão do marido, que é analista de sistemas e viaja muito a trabalho. Por isso, ficava muito tempo sozinha em casa, sem ter alguém para dividir as responsabilidades no cuidado com os filhos. Formada em Matemática, dava aulas à noite e trabalhava em um escritório de uma indústria durante o dia, até vir o primeiro filho, Rafael. Na primeira gravidez, ela abandonou os dois trabalhos, mas quando Rafael completou 4 anos, voltou a dar aulas. Aos 6 anos do filho, engravidou de Isabela. A segunda gravidez, as más condições de trabalho e o baixo salário fizeram com que ela abandonasse as salas de aula. Desde 2000, Simone não voltou mais a dar aulas, e nem pensa nisso. “Hoje luto para ter um negócio próprio, mas ainda não sei em qual ramo.” Nesse período em que está em casa, ela optou pela venda de produtos de beleza ofertados em catálogos, venda de roupas e poupa de frutas congeladas, além de trabalhos manuais. “Meu negócio é vender”, brinca. Com o dinheirinho que ganha, compra presentinhos para os filhos e para si. Arrependimento Às vezes, Simone se arrepende da escolha, mas ao olhar para os filhos e ver que estão bem criados, acredita que a escolha valeu a pena. Solange também não se arrepende. “Esse período (fora do mercado de trabalho) foi muito importante para minha vida. Hoje sou uma pessoa muito melhor”, frisa. E voltar a trabalhar foi melhor ainda. “Trabalhar melhora a auto-estima da mulher, o manequim, o papo. Sua cabeça se abre para o mundo. A gente sai daquele universo mãe e filho e essa saída dá uma oxigenada na casa.” Para as mulheres que estão na dúvida, ela aconselha: “Vão em frente! Escolham aquilo que estiver batendo mais forte. Se a dúvida faz sofrer, não sofram!” Cuidados com a carreira A consultora de Recursos Humanos do Grupo Catho, Gláucia Santos, não tem dados concretos para dizer o principal motivo que leva as mulheres a deixar o mercado de trabalho. Mas, pelos anos de experiência, afirma com toda a propriedade que os filhos estão no topo da lista. Para aquelas que desejam retornar um dia à labuta, ela aconselha a sempre manterem o currículo atualizado e jamais perder o networking, que é o contato com ex-colegas de trabalho, aquelas pessoas curingas que podem ajudá-la a encontrar trabalho. “No currículo, é bom não colocar exatamente a data de saída das empresas, para que a pessoa não seja limada antes mesmo de chegar a fazer a entrevista. Se ficou cinco anos trabalhando na empresa, coloque esse período”, frisa Gláucia. Como diz o ditado “cobra que não se arrasta não dá o bote”, é importante se manter sempre atualizado, com cursos de curta duração, uma boa forma de conhecer pessoas que possam incrementar o networking também, diz a consultora de RH. Participar de palestras também é um bom caminho. É bom que a profissional esteja ciente também de que o retorno pode não ser fácil, principalmente se quando ela parou ganhava um bom salário e tinha uma boa posição profissional. “O poder de barganha diminui para quem fica fora, especialmente se tiver mais de 40 anos. Por isso, é importante ser flexível com relação à remuneração.” Fonte DIeese