Desemprego indecente
Apesar do crescimento econômico registrado nos últimos anos em nível mundial, 195,2 milhões de pessoas continuavam sem trabalho no ano de 2006, aponta o relatório Tendências Mundiais do Emprego 2007, elaborado pelo OIT (Organização Internacional do Trabalho). Desse total, 86,3 milhões (44%) são de jovens entre 15 e 24 anos. O número, segundo a entidade, é uma marca sem precedentes na história e mantém a taxa mundial de 6,3% da população sem remuneração via trabalho. O relatório da OIT aponta ainda que ocorreram modestos avanços na distribuição da renda global com o objetivo de tirar da pobreza 1,3 bilhão de trabalhadores que vivem com menos de R$ 2 dólares por dia. “O forte crescimento econômico registrado nos últimos cinco anos teve um impacto muito leve na redução do número de trabalhadores que vivem em condições de pobreza junto com suas famílias, e essa redução se observou somente em uns poucos países. Além disso, o crescimento não provocou a diminuição do desemprego mundial”, afirma o diretor-geral da OIT, Juan Somavia. O relatório aponta para o crescimento econômico vinculado à criação de novos postos de trabalho como a única forma de resolver uma das maiores pragas do século 20 – o desemprego crônico (leia outras conclusões do relatório ao final desta matéria). Desenvolvimento social – Os resultados do relatório Tendências Mundiais serão apresentados na 45ª reunião da Comissão para o Desenvolvimento Social, da ONU (Organização das Nações Unidas), que começa nesta quinta-feira. Durante 10 dias os participantes do encontro debaterão formas de geração de emprego e melhoria nas condições de trabalho. "Discutiremos profundamente as causas do problema", disse o presidente da comissão, Mehdi Danesh-Yazdi. Danesh-Yazdi ressaltou a necessidade de a Comissão estudar questões como a globalização e o trabalho decente. "Um grande número de pessoas, mesmo trabalhando, ainda vive abaixo da linha da pobreza", destacou. POBREZA AUMENTOU NA ÁFRICA - Segundo estimativas da OIT, entre 2001 e 2006, houve diminuição do número de trabalhadores que vivem com menos de 1 dólar ao dia, exceto na África subsaariana, onde ocorreu um aumento de 14 milhões de pessoas. Na América Latina, Oriente Médio e Norte da África, os números se mantiveram praticamente inalterados. Durante o mesmo período ocorreu uma diminuição do número de trabalhadores pobres (abaixo da linha de 2 dólares diários) na Europa Central e Oriental (fora da UE) e na Comunidade de Estados Independentes, e sobretudo na Ásia Oriental, onde baixou 65 milhões. TRABALHO DECENTE PARA UMA VIDA DECENTE – Um dos principais pontos abordados no 7º Fórum Social Mundial, ocorrido em Nairóbi (Quênia) no final de janeiro, foi a questão do trabalho decente. Representantes de diversas organizações sindicais da Europa, América Latina (inclusive a CUT) e África debateram formas de incrementar o emprego, mas agregando dignidade ao trabalho. “As realidades da Europa, Estados Unidos, América do Sul e África são muito diferentes, mas é importante trocar idéias, discutir onde existe possibilidade de ações comuns, porém, é importante que os organismos sindicais internacionais tenham a bandeira comum de que é essencial a criação de trabalho decente, e não apenas qualquer tipo de trabalho”, analisa João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT, que participou dos debates representando a Central. No Brasil, durante o primeiro governo Lula, foram criados 4,6 milhões de empregos com carteira assinada. Um substancial avanço se comparado ao período de oito anos do governo anterior, quando o saldo de empregos ficou negativo em quase 800 mil postos de trabalho, mas, mesmo assim, insuficiente para que o desemprego deixe de ser um dos principais fantasmas da vida da população. Para tentar superar esse problema, entre outros, o governo lançou dia 22 de janeiro o PAC – Plano de Aceleração do Crescimento -, um conjunto de medidas que visa a incrementar o desenvolvimento nacional nos próximos anos. Para o presidente da CUT, Artur Henrique “o PAC marca um esforço do governo em retomar a capacidade orientadora do Estado na questão do desenvolvimento brasileiro, e nesse sentido é positivo. No entanto, a CUT defende um modelo de desenvolvimento sustentável, que coloque o trabalho como fator central das estratégias nacionais e, por isso, acredita que algumas propostas devem ser explicitadas no PAC. Cremos que ainda há espaço para acrescentá-las ao projeto do governo Lula, a partir de mobilização e negociação”. OUTRAS CONCLUSÕES DO RELATÓRIO DA OIT • Durante a última década o crescimento refletiu-se mais no aumento da produtividade que no de emprego. A produtividade aumentou 26%, enquanto que o número de empregos aumentou somente 16,6%. • O desemprego atinge mais fortemente os jovens entre 15 e 24 anos, afeta a 86,3 milhões de pessoas desse grupo de idade, equivalente a 44% de todos os desempregados do mundo em 2006. • Em 2006, 48,9% das mulheres de 15 anos ou mais estavam trabalhando, índice levemente abaixo dos 49,6% de 1996. Os homens, na comparação emprego-população total atingiam 75,7% em 1996 e foram para 74% em 2006. • Em 2006, a presença do setor de serviços como provedor de empregos aumentou de 39,5% para 40% e pela primeira vez superou a agricultura, que baixou de 39,7% para 38,7%. O setor industrial proporcionou 21,3% de todo o emprego. Fonte: CUT