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1 de Janeiro de 2001 às 22:59

tragam o estado de volta

Um dos arautos do neoliberalismo nos anos 80, Jeffrey Sachs é hoje um dos mais veementes defensores da importância do Estado como motor do desenvolvimento. Engajado num trabalho das Nações Unidas para erradicar a pobreza no mundo -- o Projeto Milênio --, o economista americano falou a EXAME sobre o papel dos governos no século 21. 1 - É possível acabar com a pobreza sem a ajuda do Estado? Não. A erradicação da pobreza extrema exige investimentos em saúde, educação e infra-estrutura. A iniciativa privada não irá colocar dinheiro nas áreas mais pobres do planeta, simplesmente porque não há mercado nesses lugares. Há hoje mais de 1 bilhão de pessoas na luta pela sobrevivência. Com ações bem programadas do Estado, podemos acabar com esse problema até 2025. 2 - Sua tese de que o Estado tem um papel fundamental no desenvolvimento não vai na contramão de tudo o que muitos economistas defendem? A questão não é Estado grande versus Estado pequeno. Defendo gastos públicos eficientes em áreas importantes. Veja o que ocorreu na África. Há uns 20 anos, o Banco Mundial dizia que a agricultura naquele continente não funcionava devido à intervenção do Estado. E o que foi feito? Acabaram com os subsídios a pequenos fazendeiros. Resultado: a situação ficou ainda pior. 3 - Os críticos dizem que os recursos se perdem no meio do caminho por causa da corrupção na máquina estatal, especialmente nos países pobres. Como é possível resolver esse problema? A corrupção existe, mas ela não é a principal causa da miséria. Essa idéia é conveniente para os Estados Unidos, pois exime o país e outras nações ricas da responsabilidade sobre o problema. A pobreza só vai ser erradicada com investimentos. Esse dinheiro tem de vir dos países ricos. 4 - Mas os países ricos já não ajudam as nações mais pobres? A ajuda é irrisória. Os Estados Unidos enviam por ano 3 bilhões de dólares para a África. E têm uma economia que movimenta hoje 12 trilhões de dólares por ano. Em termos percentuais, a África recebe 3 cents de cada 100 dólares do PIB americano. É muito pouco. 5 - Quanto os Estados Unidos e outros países teriam de investir para erradicar na pobreza? O problema seria resolvido se as nações ricas investissem por ano entre 0,5% e 1% de seu PIB. Isso significaria algo como o dobro ou o triplo dos níveis atuais de auxílio. 6 - O Brasil estaria na relação de países beneficiados por esse tipo de ajuda? O Brasil tem muitos desafios, mas é uma economia muito poderosa e moderna, quando comparada à dos países mais pobres. O auxílio internacional deveria ser canalizado para lugares como Haiti, Bolívia, Laos e Índia. 7 - Qual a sua avaliação sobre os programas de combate à pobreza do governo brasileiro? O Brasil avançou bastante nos últimos anos, sobretudo na área da educação. Esse processo começou com Fernando Henrique Cardoso e teve continuidade com o presidente Lula. É o rumo certo. Mas é preciso fazer muito mais. Um país que deseja passar de um nível de renda médio para um patamar mais alto deve investir pesadamente em sofisticação tecnológica. E isso só é possível quando há uma boa base educacional. A Coréia descobriu esse caminho nos anos 70. Por isso, é hoje um país muito mais rico que o Brasil.



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