TARIFAS: Cliente divulga carta aberta aos bancos
Sob o título "Carta aberta aos bancos", o jornalista Rogério Mendelski publicou na sua coluna deste sábado, dia 19, no jornal O Sul, trechos de uma carta, que está circulando na internet, de um cliente indignado com as tarifas cobradas pelos banqueiros. Para tanto, esse cidadão mostra o abuso dos bancos, comparando algumas dessas tarifas com os serviços prestados por uma farmácia, um posto de gasolina e uma padaria, que, por exemplo, nada cobra pelo pão quentinho. Leia a íntegra da coluna: Carta aberta aos bancos. “Em todo o mundo, só os bancos suíços são mais rentáveis que os do Brasil.” Manchete no Caderno Reportagem do jornal O Sul, edição de quarta-feira Circula na internet uma interessante “carta aberta” aos diretores de um grande banco brasileiro, cujo nome o colunista vai omitir porque a missiva se ajusta a qualquer estabelecimento bancário de nosso país. Como se sabe, os bancos, por aqui, tiveram um lucro de 123,5% no primeiro semestre, acima do que foi auferido no mesmo período do ano passado. “Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia. Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção desses serviços. Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante. Existente apenas para enriquecer os proprietários, sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade.” “Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível etc.), o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até um pouquinho acima. Que tal? Pois, ontem, saí do seu banco com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de eqüidade e de honestidade. Minha certeza deriva de um raciocínio simples.” “Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o pãozinho, cobra o embrulhar do pão, assim como todo e qualquer serviço. Além disso, me impõe taxas. Uma taxa de ‘acesso ao pãozinho’, outra taxa por ‘guardar pão quentinho’ e ainda uma taxa de ‘abertura de padaria’. Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, é claro.” “Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo. Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto do banco. Os senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado pelo pãozinho. Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri.” “Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma taxa de ‘abertura de crédito’ – equivalente àquela hipotética taxa de ‘acesso ao pãozinho’, que os senhores achariam, certamente, um absurdo e se negariam a pagar.” “Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu banco. Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma taxa de ‘abertura de conta’.” “Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa taxa de ‘abertura de conta’ se assemelharia a uma taxa de ‘abertura da padaria’, pois só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.” “Antigamente, os empréstimos bancários eram conhecidos como ‘papagaios’. Para liberá-lo, alguns gerentes inescrupulosos cobravam um ‘por fora’. Fiquei com a impressão que o banco resolveu se antecipar aos gerentes inescrupulosos. Agora, em vez de um ‘por fora’, temos um ‘por dentro’. Tirei um extrato de minha conta – um único extrato no mês – e os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00.” “Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 ‘para manutenção da conta’ – semelhante àquela taxa ‘pela existência da padaria na esquina da rua’. A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada semestre – uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial, vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo. Semelhante àquela taxa ‘por guardar o pão quentinho’.” “Mas os senhores são insaciáveis. Gostaria de alertar que se esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de seu banco. Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma.” “Talvez os senhores me respondam que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito grande, que existem muitas exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados etc. E tudo o que estão cobrando está coberto por lei, autorizado pelo Banco Central.” “Como sei também que existem seguros e garantias legais que protegem seu negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados. Sei que são legais. Mas também sei que são imorais. Por mais que estejam garantidas em lei, tais taxas são uma imoralidade.” Fonte: Rogério Mendelski - Jornal O Sul Retirado do sítio do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região