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8 de Setembro de 2010 às 23:59

Indiciados, Giroto e Puccinelli Jr. devem ser ouvidos hoje no caso da "operação vintém", da PF

A carreira política do petista Semy Ferraz em Mato Grosso do Sul foi marcada por extremos. Quando cumpriu mandato de deputado estadual, entre 2002 e 2006, era uma verdadeira máquina de denúncias na tribuna da Assembleia Legislativa. Semy não poupava ninguém nos casos de corrupção que denunciava e pagou caro pela postura independente. Faltando dois dias para as eleições de 2006, o petista foi acusado de compra de votos. Perdeu a reeleição e se mudou para o longínquo estado do Acre, onde voltou a atuar como engenheiro ambiental. A situação começou a mudar em janeiro de 2007, a partir da Operação Vintém deflagrada pela Polícia Federal. De acusado passou a vítima em um caso de denunciação caluniosa. Até hoje Semy aguarda para ver condenados os autores de uma armação que interrompeu a carreira política dele em MS. Na última semana Semy esteve em Campo Grande para mais uma audiência. Deveriam ainda ser ouvidos os indiciados pelo crime, Edson Giroto, e André Puccinelli Jr, filho do governador, mas uma testemunha faltou e a audiência será retomada hoje (8)... Em entrevista, o ex-deputado estadual fala dos desdobramentos do processo, de sua atuação na Amazônia e da repercussão da prisão do prefeito de Dourados, Ari Artuzi. Midiamax - O senhor tenta provar na justiça que foi vítima no caso da suposta compra de votos nas eleições de 2006. Como está o andamento do processo? Semy Ferraz – Esse processo está no TRF (Tribunal Regional Federal). Teve uma audiência na quarta-feira passada, quando fui ouvido na condição de testemunha e vítima. Ela será retomada no dia 8 de setembro, para audição das testemunhas de defesa arroladas pelos indiciados, e também de meu assessor à época, Benoal Sobral. Estão indiciados Edson Giroto, André Puccinelli Júnior, Mirched Jafar Júnior e Edmilson Rosa. Aí o processo retorna para São Paulo para ser julgado. Midiamax – Já fazem mais de três anos desde o episódio, mas o caso ainda não foi concluído. A que o senhor atribui essa morosidade? Semy Ferraz – Pelo fato de eu não ter tido acesso aos áudios, e o delegado não ter permitido passar isso para a imprensa, na verdade o processo entra para a fila comum. Diferente do que aconteceu com José Roberto Arruda (ex-governador do Distrito Federal). Se o delegado que presidiu o inquérito em Brasília mantivesse em segredo de justiça aquelas imagens do dinheiro na meia, da oração com o dinheiro, com certeza a opinião pública não criaria aquele clima de comoção, forçaria o judiciário. Midiamax – A que gravações o senhor se refere no seu processo? Semy Ferraz – No meu caso, o delegado mostrou a fita com as conversas gravadas e autorizadas pela Polícia Federal. Elas começam a aparecer na Operação Vintém, a partir de 17 de janeiro de 2007. Midiamax – Mas a causa está em segredo de justiça? Semy Ferraz - A operação já perdeu o segredo de justiça, mas não tive acesso a esses áudios. O delegado que presidiu o inquérito, José Otacílio Della Pace Alves, não deixou vazar para a imprensa nem para mim os áudios. No primeiro momento eu acusei a Polícia Federal de estar envolvida. Então ele queria provar para mim que a PF não tinha envolvimento. Aí ele mostrou vários trechos para mim. Eu tenho as transcrições a partir do inquérito policial. Midiamax – O que teria levado os suspeitos a tentar incriminar o senhor? Semy Ferraz - Essa operação foi montada para prejudicar minha reeleição, em função de eu ter entrado com ações populares contra o atual governador. Tenho consciência de que meu mandato criou problemas para eles. Por exemplo: Giroto era pré-candidato a prefeito quando denunciei os contratos dos garis laranjas no caso Engecap. Isso o prejudicou e Nelsinho Trad virou candidato. Após as eleições encontrei com Nelsinho, e ele disse: “graças a você eu sou prefeito de Campo Grande”. Mas eu não denunciei isso para prejudicar o Giroto. Denunciei porque chegaram provas até mim de uma empresa, em nome de dois garis usados como laranjas, e que hoje estão com uma dívida violenta sobre sonegação fiscal. Só o principal chega a mais de R$ 4 milhões. Denunciei para salvar a vida dos garis. Midiamax – Na época o senhor chegou a acusar a PF de participação no esquema para incriminá-lo. Isso procede? Semy Ferraz - Dizer que a PF plantou o dinheiro, eu retirei a acusação. Quem plantou o dinheiro foi o Rosinha, até porque ele é réu confesso. O dia em que eles plantaram o dinheiro grampeado com santinho no carro do assessor foi 29 de setembro de 2006. Eram R$ 540, em 27 notas de R$ 20. Como na época eu tinha convicção de que meu assessor não estava comprando votos, fiz a seguinte acusação: “se tem alguém que queira prejudicar minha reeleição, é o senhor André Puccinelli”. A Polícia Federal agiu muito rápido porque foi acionada pelo Giroto. A equipe veio com papiloscopista. Normalmente é um trabalho mais interno, mas eles queriam cumprir rápido o flagrante porque alguém pediu para eles. Está nos autos que quem denuncia para a PF é o Edson Giroto. Midiamax – Em depoimento, Edmilson Rosa assumiu exclusivamente a responsabilidade pelo fato... emy Ferraz - Isso é estratégia de defesa. Ele é um cara que tem patrimônio invejável, e como servidor público não teria acumulado os bens que ele tem. Então com certeza está sendo bancado para assumir a culpa sozinho e livrar os mandantes. Midiamax – Nas eleições de 2006, o senhor teve 9.135 votos e foi o nono colocado na coligação que elegeu cinco nomes a deputado estadual. Para o senhor, sua reeleição foi prejudicada pelo caso? Semy Ferraz - Entendo que sim, mas isso foi a gota d’água. Lembro que na minha cidade natal, Paranaíba, tive quase 6,5 mil votos na minha eleição em 2002. Na de 2006, não cheguei a ter 2 mil votos, mesmo tendo sido candidato a prefeito em 2004. Foi estampado na imprensa que prenderam um candidato comprando voto. As rádios de Paranaíba repercutiram... foi desastroso para minha campanha. Eu tinha expectativa de fazer 6 mil votos em Paranaíba, de acordo com as pesquisas. Mas o desastre maior foi essa denunciação caluniosa. Jogou uma água fria na minha militância. Midiamax – Depois do episódio o senhor se mudou para o Acre. Muito se diz por lá que quem vai para o Acre, é porque teve problemas graves nos estados de origem. O que o senhor pensa sobre isso? Semy Ferraz - Não vejo no sentido de proteger quem tem problemas em seus estados. Tive o privilégio de ter amizades no Acre, pois tinha morado lá em 1984 e 1985. Inclusive minha esposa é de lá, nos casamos lá. Binho Marques, que ganhou a eleição para governador em 2006, tinha sido líder estudantil. Quando perdi a eleição aqui, me convidaram para ser assessor do governador. O Acre me acolheu como um filho, esperando que eu tivesse potencial para ajudar o projeto do PT local. Midiamax – Como é sua atuação política no estado amazônico? Semy Ferraz - Primeiro fiquei na assessoria direta do governador, ajudando a montar os projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Em agosto de 2007 eles queriam fazer uma reestruturação na Empresa Municipal de Saneamento. Então estou presidindo a autarquia em Rio Branco. Estamos com um grande programa de obras em parceria com o governo federal. Só em obras diretas temos investimentos de R$ 150 milhões na ampliação do serviço de água, coleta e tratamento de esgoto. Fora as intervenções em parques lineares e habitação. E precisava de alguém com experiência em saneamento, que eu tenho, para fazer esse trabalho. Midiamax – E em que condição se encontra o saneamento básico na capital, Rio Branco? Semy Ferraz - Nossa meta era universalizar a água à população urbana até o final deste ano. As obras do PAC atrasaram e isso não será possível. Provavelmente no final de 2011 vamos levar água a 100% da população, saindo dos 50% de quatro anos atrás. Em esgoto, temos hoje 20% da população atendida e vamos chegar a 60%. No PAC 2, estamos pleiteando mais R$ 15 milhões para água e R$ 150 milhões para esgoto. Com isso seremos a primeira capital da Amazônia a universalizar o serviço de água e esgoto. Porto Velho tem 2% de esgoto, e em Manaus, que está privatizada há mais de 10 anos, tem 11% de coleta e tratamento de esgoto. Midiamax – Mas o senhor não se desvinculou totalmente da política, já que ocupa um cargo na prefeitura. Como você avalia esses anos no Acre? Semy Ferraz - Foi bom para mim, porque a política é muito ruim na vida profissional da gente. Nos quatro anos em que você fica como deputado, a inovação tecnológica é muito grande. Eu precisava me reinserir no mercado como profissional de engenharia sanitária e ambiental. Hoje presido também a seção Acre da ONG Abes, Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Se eu ficasse aqui, dificilmente teria emprego. Qualquer grande empresa teria medo de dar emprego para mim, pois sofreria retaliação do governo do Estado e da prefeitura. Midiamax – No ano passado chegou a ser estudada a hipótese de uma candidatura sua ao governo do Estado pelo PT. O senhor pretende voltar a Mato Grosso do Sul? Semy Ferraz - Tinha uma expectativa criada em torno da não-candidatura do ex-governador Zeca do PT. Com esse quadro, um grupo de partidos liderados pelo PV e pelo PC do B entendia ser necessário construir uma candidatura e fugir da chapa única. Havia um grupo dentro do PT tentando discutir o apoio ao André Puccinelli, e a candidatura do Zeca ainda sofria com as dúvidas. Cheguei a conversar com o Moacir Abreu, do PC do B, e o Marcelo Bluma, do PV. Mas a partir da consolidação de Zeca do PT como candidatura de oposição, essa alternativa não era mais necessária. Midiamax – Num eventual governo Zeca do PT, o senhor se colocaria à disposição para retornar e ajudar na governabilidade? Semy Ferraz - Sim, colocaria meu nome à disposição do governador. Com a mesma tranqüilidade que o Acre teve de me convidar, sabendo que eu não ajudei para ganhar a eleição. Acho que quem governa, prioritariamente, é quem ajuda a ganhar a eleição. Se porventura precisar, ou até como profissional liberal, posso antecipar a minha volta. Midiamax – Como o senhor recebeu as notícias da prisão do prefeito de Dourados, Ari Artuzi, e das denúncias feitas pela Operação Uragano, da Polícia Federal? Semy Ferraz - Recebi com indignação. Você vê as chacotas das pessoas. Por outro lado, a gente verifica que nossa democracia está se consolidando. Temos a Polícia Federal que está cumprindo seu papel e usa de inteligência para desbaratar os esquemas. No caso do jornalista que denunciou, ele se sente seguro e sabe que o caso será apurado e punido. Isso me conforta muito. Outro fato importante é o delegado ter tornado público parte das gravações. É ruim para a imagem da cidade. Mas ajuda a criar um clima de comoção, e a população começa a ficar mais esperta para saber votar. Quando chega um candidato dando dinheiro, comprando seu voto, com certeza ele vai usar esse mandato de forma inadequada. O povo ganha R$ 50 numa eleição, mas perde quatro anos de falcatruas que esse episódio ajudou a apurar. Midiamax – Mas hoje nenhum envolvido na Operação Owari, que foi deflagrada há um ano em Dourados, está preso... Semy Ferraz - A agenda do judiciário não tem o mesmo peso para a punição desses crimes. Naquela vez o vice-prefeito foi preso, foi solto e preso de novo agora. Essa sensação de impunidade estimula a reincidência. A Polícia Federal prende, aí o judiciário vai lá e solta. Mas quando o povo vai para a rua, acaba antecipando a punição. Isso força o judiciário a priorizar o andamento dos processos. Midiamax – A punição aos políticos, sendo justa ou injusta, vem pela urna? Semy Ferraz - Em parte sim, mas não pode parar só na urna. A punição deve cassar o mandato e recuperar o dinheiro desviado. E às vezes a punição da urna demora ou não vem. No caso do Distrito Federal, Arruda tinha fraudado o sistema de voto secreto do Senado. Aí renunciou o mandato de senador, foi candidato ao governo e o povo deu mandato para ele de novo. Midiamax – O que falta para o país avançar nessa questão? Semy Ferraz – O episódio nos impõe uma agenda mais forte em cima da reforma política. O Brasil não pode perder de discutir financiamento público de campanha. Você vê candidaturas alugando carro para botar adesivo em troca de combustível. Até a classe média e alta está correndo atrás para colocar nome na lista. Isso tem que mudar. Senão vamos continuar elegendo Artuzis e Arrudas da vida. Esse episódio ajuda a pautar a reforma política do novo Congresso que está sendo eleito em outubro. Fonte: Midiamax Campo Grande



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