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18 de Setembro de 2010 às 23:59

Eleição presidencial lembra bordão baiano "é caixão e vela", diz jornalista

"Fica cada vez mais nítido o barulho do martelo pregando a tampa do caixão em que deverá ser sepultado o sonho do tucano José Serra" (Foto: Cacalos Garrastazu/Divulgação) Não se assustem com o título destas linhas. Ele aí está por representar, para o autor, uma das expressões mais saborosas em seu exemplar significado no chamado baianês, rico idioma popular falado nas ruas de Salvador, ou, como preferia Jorge Amado, o linguajar especial do povo da cidade da Bahia. Em tempo de campanha política, ou não. Adianto que não tratarei aqui de nenhum filme de terror ou suspense, mas do quadro eleitoral que se configura no País a menos de 20 dias do pleito, a partir de quatro fatos cruciais da semana política: o debate dos presidenciáveis na Rede TV!; a mais recente pesquisa Datafolha; a passagem explosiva, por Salvador, de Zé Dirceu, dirigente do PT, que causou tremores e rebuliços locais e repercussão internacional. Por fim, o segundo desmonte na Casa Civil do governo Lula, com a queda da ministra Erenice Guerra. "Caixão e vela", no dicionário baiano, significa "morreu aí, não há mais o que fazer". Desconheço a origem exata da expressão, mas tomei conhecimento dela na condição de irremediável ouvinte, desde a infância, das transmissões de partidas de futebol pelo rádio. Na Sociedade da Bahia, a emissora AM de maior alcance do Estado, em geral quando um time fazia 2 a 0 ou 3 a 1 no adversário depois dos 40 minutos do segundo tempo, se escutava o som do martelo batendo pregos na madeira. E o locutor, implacável, sentenciava: "Caixão e vela, meu povo torcedor (e dizia o nome do time perdedor), agora só resta rezar para o Senhor do Bonfim, e até assim ficou difícil"! Isso pode parecer perverso para alguns, pessimismo exagerado para outros, pirraça de torcedor político para uns tantos mais. No entanto, ao jornalista que sempre prezou o fato acima de todas as coisas, e vem de longe quando o assunto é disputa eleitoral (desde as acirradas e ideológicas campanhas para grêmios secundaristas e diretórios acadêmicos dos anos 60/70, até as históricas e inigualáveis coberturas de campanhas políticas do assassinado Jornal do Brasil, a partir do processo de reabertura democrática) este parece um caso típico para lembrar o bordão baiano. Há reduzida possibilidade de erro na avaliação de que a 4 de outubro próximo terá saído das urnas do dia 3 o futuro presidente do Brasil para os próximos quatro anos. Ou mais, a depender de como as coisas correrão depois de 1 de janeiro de 2010, quando Lula finalmente deixará o Palácio do Planalto. Ou não, se optar por deixar sua sombra continuar rondando por lá. Fica cada vez mais nítido o barulho do martelo pregando a tampa do caixão em que deverá ser sepultado o sonho do tucano José Serra e de seus nada fiéis aliados do DEM, entre outros em diferentes áreas - incluindo na imprensa -, de retomada do poder depois de oito anos de domínio petista, ou mais concretamente, de construção e de consolidação do lulismo no País. Os fatos desta semana de muitos fatos são mais que emblemáticos. No debate da Rede TV!, em que se esperava um candidato do PSDB indo com tudo para cima - até por falta de espaço para recuar mais - o que se viu? Um Serra desconhecido até para os que o conhecem como poucos, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: tímido, atrapalhado em seu discurso de uma nota só que parece mais retirado de bulas de medicamentos que do pensamento e da ação de um dos mais vibrantes, inteligentes e hábeis combatentes da ditadura e, principalmente, um dos mais versáteis, competentes e comprovados governante e administrador público do País. Um Serra cada vez mais distante de suas origens na brava Ação Popular (AP) dos católicos progressistas, mesmo dos acadêmicos intelectuais tucanos, e cada dia mais próximo do antigo pensamento e ação da velha UDN falso moralista e rançoso, pessimista e mau humorado, reencarnado nas propostas do aliado DEM, pessimamente maquiado. Do outro lado uma petista Dilma Rousseff, cercada de escândalos e acusações por todos os lados, mas surpreendentemente tranqüila e bem humorada, capaz de fazer piadas e trocar galanteios com o duro e hábil Plínio de Arruda Sampaio, ou de gestos impensáveis de amabilidades com a concorrente verde, Marina Silva, esta sim, uma surpresa positiva e digna de menção da campanha. Resultado: 24 pontos de frente da candidata de Lula sobre Serra (que já nem FHC tem mais ao seu lado) na mais recente pesquisa Datafolha. E José Dirceu, como entra nesta história, perguntará a turma da objetividade jornalística. Este, de tanto visitar a Bahia e indiscutivelmente hábil estrategista, já percebeu que o jogo está no fim, e escolheu o histórico e emblemático reduto sindical dos petroleiros, criado pelo líder Mario Lima - falecido ex-deputado socialista, constituinte e sindicalista de quem o próprio Lula reconhece ter recebido lições em muitas idas e vindas a Salvador, no ABC paulista e em Brasília - para mandar o seu recado "pós-eleitoral", como definiu o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Emerson Cervi. "É já uma disputa dentro do governo. Ele quis mandar um recado para a Dilma de que ele quer espaço", afirma o acadêmico. O jornalista opina que a queda, surpreendentemente rápida, de Erenice Guerra na Casa Civil também pode ser incluída nesse contexto. No mais é como diz o soteropolitano: Caixão e vela! Ou muita reza ao Bonfim, pelo menos por um cada vez mais improvável segundo turno. Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site-blog Bahia em Pauta



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