2 de Março de 2012 às 23:59
Denúncia: Puccinelli e Giroto arranjam mais R$ 23 milhões para obra da CGR, praticamente paga
Depois de reunião com o ministro dos Transportes, Sérgio Passos, do PR, no último dia 28, o governador Puccinelli, ladeado pelo deputado federal Edson Giroto e dos senadores Moka (ambos do PMDB) e Antonio Russo (PR), anunciou que o ministério vai liberar mais R$ 23.3 milhões para a conclusão dos últimos 20 kms da BR-359, no norte do MS.
Segundo nota oficial, o governador justificou a necessidade de novos recursos, após a reunião com o ministro, dizendo que “faltam construir cerca de 20 quilômetros da rodovia”.
Faltou explicar que o trecho sem asfalto era tocado empreiteira CGR, que agora está em recuperação judicial desde 20 de dezembro.
Segundo a direção da empresa, a empreiteira tem dívidas não honradas de R$ 60 milhões, e por isso solicitou à Justiça a recuperação judicial, uma medida legal que se destina a evitar falências, protelando dívidas acumuladas até que um plano de parcelamento dos pagamentos seja apresentado aos credores.
Faltou explicar, ainda, que das quatro empreiteiras venceram as concorrências da BR-359, só a CGR não terminou seu trecho. O pior é trabalho já realizado na BR-359 está desmoronando com chuvas e a má drenagem.
Há mais um detalhe importante: ao falar sobre a obtenção da verba, Puccinelli se referiu a um trecho sem asfalto de 20 kms.
Ocorre que informações de Alcinópolis, e do próprio canteiro da CGR na cidade, praticamente desativado, garantem que a extensão exata é de apenas 11 kms. Se for exatamente nisso, dos novos R$ 23.3 milhões, em torno de R$ 10 milhões estariam sobrando na conta.
CGR ganhou dois lotes milionários nas licitações
A BR-359 é extremamente importante para o escoamento da produção agrícola da região, centrada na soja, algodão e gado. Em 2008 saíram os dois primeiros editais para a pavimentação do trecho entre Coxim à divisa do MS com Goiás, no valor de R$ 103 milhões, à época.
A CGR, uma das duas escolhidas dessa primeira etapa, ficou com R$ 54,4 milhões para pavimentar 55,3 kms. Ou quase R$ 1 milhão por km construído.
Durante a execução, o orçamento passou para mais de R$ 122,2 milhões: R$ 101 do governo federal e a contrapartida do estado de R$ 11.2 milhões. Aumento de R$ 19 milhões.
A previsão de inauguração do trecho era de abril de 2011, mas o convênio foi estendido até março deste ano.
Em 2009, saíram as novas licitações o outro trecho, de Alcinópolis à divisa com Goiás. O valor do convênio federal foi de R$ 121.6, com contrapartida do governo estadual de R$ 13.5, um total de R$ 135 milhões.
Pelas informações disponíveis nos site de transparência do governo federal, a União já liberou R$ 114.8 da sua parte até agora. E com mais os R$ 13 milhões da contrapartida do governo estadual, faltam ainda R$ 8 milhões para quitar a dívida com as empreiteiras, totalizadas nos R$ 135 milhões.
Agora, com mais os R$ 23.3 milhões anunciados, a soma total subirá para R$ 151 milhões.O convênio acaba em maio.
Resta saber quanto ficará para a CGR no trecho, além dos R$ 44,5 milhões que a empresa ganhou para asfaltar 28,9 kms, na base de R$ 1.5 milhão por km construído, deixando 11 km sem asfalto.
Além do que falta receber na BR-359, a CGR recebeu mais de R$ 80 milhões de pagamentos da Agesul, em 2011. Do Dnit, foram mais R$ 29.5 milhões, por obras nas BRs 060, 262,158,todas no MS,e BR-101,em Santa Catarina.
Empreiteiras entregaram obra e CGR parou construção
Todas as outras três empreiteiras - Sanches Tripoloni, Sercel e CCB – já entregaram seus trechos prontos e sinalizados. A CGR atrasou a entrega do seu primeiro trecho e agora não executou boa parte do segundo.
Com isso, o trecho da CGR que está apenas terraplanado, vai se esvaindo com a chuva pesada na região norte, como mostram imagens do site Alcinópolis.com. Além isso, outros trechos recém-asfaltados sofrem com a drenagem mal feita.
Quem sofrem são os motoristas da região. Na chuva encalham na lama, na seca, na areia.
Durante a construção da BR-359, os órgãos de controle encontraram irregularidades
Em reportagens anteriores, o Midiamax demonstrou que as obras da BR-359, comandadas pela Agesul de tempo do ex-secretário Edson Giroto, já foram enquadradas por superfaturamento no Fiscobras, em 2009, e tiveram seus preços reduzidos.
Além disso, o gerente da obra, Hélio Komiyama, hoje o homem forte da Agesul, teve recomendação de inegibilidade do TCU, por aprovar pagamentos não realizados.
Em reportagem e capa, a revista Isto é citou a empreiteira Sanches Tripoloni, do Paraná, como uma das grandes financiadoras das campanhas política do PR, ao tempo de Giroto no partido.
Fonte: Midiamax Campo Grande, por Pio Redondo