BC reduz para oito número de reuniões do Copom
O Banco Central (BC) deu ontem mais um passo para tentar mostrar aos investidores a estabilidade da economia brasileira. A instituição anunciou que, a partir do ano que vem, vai reduzir o número de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela definição da taxa básica de juros, a Selic. O período médio entre as reuniões passará dos atuais 30 dias para cerca de 44 dias. Com isso, o comitê fará oito reuniões ordinárias por ano e não mais 12. Em nota divulgada no início da noite, o BC afirmou que a decisão ocorreu “diante da crescente normalização e estabilidade do ambiente econômico do país, que reduz a necessidade de decisões referentes à fixação da taxa de juros básica em maior freqüência”. Economistas e analistas do mercado aprovaram a decisão. Os prazos maiores entre as reuniões do Copom, dizem os especialistas, vão tornar menos freqüentes as oscilações no mercado financeiro típicas das vésperas de cada decisão sobre a taxa de juros. — Aquela costumeira tensão pré-Copom será diluída — afirma Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e hoje sócio da consultoria Tendências. Para Loyola, o Copom terá que ajustar a trajetória futura dos juros aos novos intervalos entre reuniões. Eventualmente, diz o economista, poderá até usar o viés — indicação na taxa que permite ao BC subir ou baixar os juros a qualquer momento — que não vem sendo adotado desde 2002. Assim como Loyola, Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do BC e formulador do sistema de metas de inflação, também acredita que o prazo maior entre as reuniões não significará um adiamento no corte dos juros básicos: — Se o BC fosse reduzir 1,5 ponto percentual em três meses, por exemplo, agora tenderá a cortar 0,75 ponto percentual em cada uma das duas reuniões que ocorrerão nesse período. Mas Werlang, que hoje é diretor-executivo do Itaú, faz uma ressalva. Ele acredita que o BC poderia adotar o novo calendário só a partir de 2007. Como muitos bancos e consultorias já preparam seus cenários para o ano que vem, a expectativa de que ocorreriam 12 reuniões em 2006 já estava incorporada no mercado financeiro, afirma. Para Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e hoje no Ibmec, o novo calendário reflete um alongamento nos prazos de todo o sistema de metas de inflação. Na sua opinião, o BC cada vez mais indica que se preocupa com a trajetória de longo prazo da inflação, que não necessariamente coincide com as metas fixadas para o período de um ano: — O novo prazo veio em boa hora. As reuniões do Copom criam um frisson desnecessário no mercado, com muitos investidores aproveitando as oscilações para embolsar ganhos. O modelo de menos reuniões anuais do Copom é o mesmo seguido pelo comitê do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que se reúne oito vezes por ano. O Copom foi criado em 1996 e sempre manteve reuniões mensais, à exceção dos meses que se sucederam à crise asiática, em 1997, e à crise russa, em 1998. No auge da instabilidade financeira, os encontros foram temporariamente suspensos e a diretoria do BC passou a decidir os juros da economia diretamente na mesa de mercado aberto da instituição, com mudanças às vezes diárias. Foi só a partir de março 1999, porém, que o Copom ganhou notoriedade. A equipe econômica chefiada pelo então ministro da Fazenda, Pedro Malan, e tendo Arminio Fraga como presidente do BC, definiu o regime de metas de inflação como saída para a crise instaurada após a mudança no regime cambial, em janeiro daquele ano. A taxa básica Selic ganhou atenção como principal instrumento para controlar a inflação.