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1 de Janeiro de 2001 às 22:59

Artigo: É ordem do governador

"Tolerância menor do que zero foi dada, se fez gesto de reação, é ordem do governador: pode disparar a arma em direção de quem fez gesto de reação." Essa foi a frase dita pelo Exmo. Sr. Governador do Estado de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), no dia 07 de fevereiro de 2008, depois de um princípio de rebelião na Colônia Penal de Campo Grande, frase que foi amplamente divulgada pela mídia nacional.

O Governador foi além, ao afirmar que agora o "tratamento é borduna e repressão". O governador disse ainda que a repressão também vale para qualquer movimento, "seja de branco, negro, sem-terra, brasileiro, italiano, índio", que impeça o direito de ir e vir nas estradas: “na minha opinião bloquear rodovia é crime. Se fecharem, a ordem é abrir com spray de pimenta e bala de borracha”.

Lamentavelmente, embora as declarações do governador tenham sido criticadas pela presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Mato Grosso do Sul, Delasnieve Daspet, o que se viu foi as demais autoridades se calarem e, setores da imprensa, baseadas em enquête, divulgar que a sociedade apoiou a “Ordem do Governador”.

Exatamente 24 dias se passaram da “Ordem do Governador”, um líder indígena foi morto num confronto com policiais na cidade de Naviraí. Esta morte precisa ser muito bem investigada e esclarecida, pois esta não pode ser a prática da polícia seja ela qual for e a qual pretexto, pois num Estado onde a violência tem aumentado consideravelmente, o papel da Polícia Militar é de fundamental importância.

Não há dúvidas do papel importante que a Polícia Militar tem desenvolvido no Estado, muitas vezes trabalhando sem as mínimas condições de estrutura, mas é inadmissível que, num simples caso de desordem em uma danceteria, seja necessário um tiroteio com uma morte e outros feridos, inclusive quando um dos lados estava desarmado.

È preciso que o Senhor Governador reflita sobre suas declarações, pois elas podem ter influenciado na reação dos policiais, que na primeira dificuldade, entre buscar reforços e seguir a “ordem do Governador”, podem ter optado pela segunda hipótese. É claro que neste momento seria apenas ilação tentar achar um culpado pela tragédia acontecida, mas se levarmos em conta as desastrosas “Ordens do Governador”, fica claro que tanto os índios como os polícias são vítimas nesta macabra história.

Cabe agora a sociedade refletir sobre essas declarações do Governador, em que claramente o mesmo diz que vale para qualquer movimento, apenas se esquece de mencionar que vale também para os agricultores, que num passado recente também fecharam rodovias, ou será que para eles a prática seria outra?

Não podemos e não devemos conviver com práticas ultrapassadas de intimidação e repressão, os movimentos sociais são legítimos, inclusive o dos agricultores, porém sempre foi mais fácil descer a borracha nos pobres. Depois do acontecido é urgente e necessário que o Sr. André Puccinelli venha a público retirar a ordem dada aos policiais para que atirem em seus cidadãos.

Joacir Rodrigues de Oliveira
Presidente do Sindicato dos Bancários de Dourados e Região-MS



Sindicato dos Bancários de Dourados e Região - MS

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