Ex-presidentes da Caixa assinam carta em defesa da instituição pública centenária
EX Presidentes (imagem)
Divulgação de documento foi feita na live que discutiu futuro do banco nesta terça, 25, promovida pela gestão da conselheira Rita Serrano
Seis ex-presidentes da Caixa entre as décadas de 1990 e 2010 participaram nesta terça, 25 de agosto, de encontro virtual que teve como pauta central o futuro do banco público centenário. Promovido pela gestão de Rita Serrano, que representa os empregados da instituição no Conselho de Administração, o evento integrou a série “O X da Questão”, criado pela conselheira para abordar questões relativas ao banco e seus trabalhadores.
EX e entidades
Além dos ex-presidentes - Danilo de Castro (1992/1994); Jorge Mattoso (2003/2006); Maria Fernanda Coelho – (2006/2011); Jorge Hereda – (2011/2015); Miriam Belchior – (2015/2016) e Gilberto Occhi – (2016/2018) – também participaram os representantes de entidades vinculadas aos empregados, como Anna Claudia de Vasconcellos, pela Advocef (advogados da Caixa); Mairton Neves (Fenag); Marcelo Barbosa de Andrade Pereira Silveira (AudiCaixa), Giuliano João Paulo da Silva (SocialCaixa), Geraldo Aires da Silva Júnior (Aneac) e Sérgio Takemoto (Fenae). A transmissão foi feita pelo Facebook de várias entidades e ficará disponível na página da gestão Rita Serrano – ritaserranoca
Na avaliação da conselheira o encontro é histórico e revelador da importância do banco não só para a sociedade e seus empregados como para os que tiveram a oportunidade de liderá-lo em algum momento. A defesa da instituição pública, uma das mais longevas do País e que completou 159 anos em janeiro passado, é expressa em carta aberta assinada pelos seis ex-presidentes. O texto do documento destaca que a Caixa “nasceu mexendo com o sonho dos brasileiros (...) da casa própria (...) da ascensão social (...), de um futuro melhor, (...) passou por diversos governos e por pouco “não sucumbiu à privatização, como na década de 1990, quando praticamente todos os bancos estaduais e diversas outras empresas públicas foram vendidos”. E, acrescenta, consolidou-se nas últimas décadas “como maior gerenciadora de programas sociais do País”.
O documento lembra ainda a atuação fundamental do banco neste momento de pandemia, com atendimento a milhões de brasileiros que buscam recursos do auxílio emergencial, pagamento do FGTS e PIS, quebrando paradigmas e tornando-se, em tempo recorde, “o maior banco digital do Brasil, com a abertura de mais de 90 milhões de contas digitais”. Ainda hoje a Caixa está entre as empresas que os brasileiros não querem ver privatizadas, segundo revelam pesquisas de opinião. Recentemente, porém, uma medida do governo federal (MP 995) tenta facilitar a venda do banco a partir da criação de subsidiárias. “Como ex-presidentes da Caixa e atentos à atual crise sanitária, econômica e política pela qual passa o Brasil, entendemos que o papel do Estado nesse cenário é central na administração de políticas nacionais eficazes e na supervisão dos mercados financeiros e, para cumprir tal função, a atuação de bancos públicos é fundamental” – destaca a carta (leia íntegra abaixo).
Para Rita Serrano é preciso ter em mente que, se hoje o Estado conta um banco público do porte da Caixa, que pode ser usado em momentos de calamidade pública e para a execução de políticas anticíclicas, é porque ao longo de muitos governos, incluindo o atual, os empregados, entidades e movimentos organizados empunharam a bandeira da defesa de manutenção do banco público frente às iniciativas de privatização. “Os empregados que tenho a honra de representar são essenciais nesse momento de pandemia e mesmo sob risco de contágio e esgotados pelo extenuante trabalho estão no front, atendendo a população. Dedico a eles essa live. Minha convicção no trabalho que hoje desempenho no Conselho de Administração vem da coragem e força dos colegas da Caixa”, afirmou.
Os representantes das entidades de empregados da Caixa também destacaram ao final a relevância do encontro histórico e da união contra medidas privatistas que atacam o banco, como a MP 995. “Com nossa unidade vamos superar esse momento e construir o futuro que o País merece”, sintetizou Sérgio Takemoto, da Fenae.
Confira, abaixo, alguns dos principais momentos na voz dos ex-presidentes
“Quando assumi a Caixa vivia a pior fase de sua história, o FGTS tinha sido raspado. Me lembro de um encontro com o ministro da Fazenda do Itamar (presidente Itamar Franco) que ele disse para fechar o banco, mas o presidente negou e ainda brincou: ´se eu fechar a Caixa o Severo Gomes (senador, então recentemente falecido) vem puxar minhas pernas´. Fizemos um esforço enorme para recuperar, o banco, trouxemos o cartão de crédito, demos solução aos demitidos pela greve...Temos que lutar contra essa MP 995, cada funcionário deve ser um porta-voz junto à população, aos clientes, a seus parentes.” - Danilo de Castro
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“A Caixa é uma instituição única. Estava sendo preparada para privatização, e foi preciso retomar seu papel. Hoje enfrentamos uma recessão histórica, uma crise extraordinária, falta trabalho a milhões de brasileiros e temos um governo paralisado. Mas a Caixa está presente para garantir crédito, continua tendo um papel fundamental não só para pagar o auxílio emergencial – se não fosse a Caixa como a população teria acesso a esse auxílio? -, mas para auxiliar na saída dessa crise, com políticas sociais e de desenvolvimento. Desenvolve uma atividade única e sofre críticas e uma tentativa de destruição.” - Jorge Mattoso
“Desde 2019 a Caixa vem sofrendo um sério e profundo processo de desmonte, com a venda de ativos, retirada de comissões, ataques aos empregados. Esse processo tem vários nomes, desestatização, desinvestimento, fatiamento, mas é a mesma coisa. E agora a MP 995. Não há como pensar na retomada do Brasil sem políticas públicas, sem um banco público que tenha as credenciais da Caixa. Privatizar a Caixa significa abdicar do futuro do País, da soberania. Mas nossa história é de muita luta, organização, e a palavra é resistência.” - Maria Fernanda Coelho
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“A Caixa é realmente apaixonante. É impressionante o nível de profissionalismo, competência, esforço e, principalmente compromisso; dentro da Caixa se respira cidadania, pois os empregados se importam com as pessoas, com o País. A Caixa também é um instrumento para se regular o mercado, e seu futuro está ligado diretamente ao futuro do Brasil, de todos nós. Temos muito o que resistir se não quisermos que o País volte ao século 19.” - Jorge Hereda
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“A Caixa é o principal braço operacional de políticas públicas do governo federal. Tive todos os tipos de relação com o banco, como secretária habitacional de Santo André, gestora federal, nas discussões do Minha Casa, Minha Vida e PAC; depois como presidenta, identificando claramente o enorme compromisso dos empregados, e como correntista. O banco vem sendo sufocado desde o golpe de 2016, e agora com Bolsonaro e Guedes e a MP 995, que nada mais é do que um ´passa-moleque´ do governo sobre os outros dois poderes.” - Miriam Belchior
“Há uma busca silenciosa para ir enfraquecendo a Caixa. Por que tiraram a Lotex, a raspadinha? Por que reduzir o que a Caixa recebe para administrar o FGTS? A Caixa tem poder, tem futuro, um ativo muito grande, inexplorado. É uma incoerência... Seu presidente declara que ela nunca teve um lucro tão grande... Por que então privatizar? O banco é financeiro ou social? É social, mas tem que ter sustentabilidade.” - Gilberto Occhi.
Carta aberta dos ex-presidentes em prol da Caixa pública, íntegra e sustentável
A Caixa é uma das instituições mais importantes do mundo, com destaque para a gestão de políticas públicas, e sua consolidação tem sido um processo inovador e ousado. A Caixa nasceu mexendo com o sonho dos brasileiros: o sonho de ser livre, com a poupança para a compra da alforria pelas pessoas escravizadas; o desejo dos pais em garantir um bom futuro para os filhos; o sonho da casa própria, com o crédito; a possibilidade de acesso a bens e serviços. Enfim, o sonho da melhoria de vida, da ascensão social, de um futuro melhor.
A instituição centenária passou por diversos governos. Em alguns, por pouco não sucumbiu à privatização, como na década de 1990, quando praticamente todos os bancos estaduais e diversas outras empresas públicas foram vendidos. E consolidou-se, nas últimas décadas, como maior gerenciadora de programas sociais do País.
Neste ano, quando estava em andamento processo para privatizar suas principais operações comerciais, surgiu a pandemia da Covid-19 e, mais uma vez, a Caixa foi desafiada. Atendeu em tempo recorde metade da população brasileira, algo em torno de 121 milhões; ou seja, 8 entre 10 adultos passaram pelo banco para receber benefícios emergenciais, criados para minimizar os efeitos da crise sanitária e econômica, além do PIS e FGTS. Quebrou paradigmas e se tornou o maior banco digital do Brasil, com a abertura de mais de 90 milhões de contas digitais.
Muito embora a instituição tenha fortalecido sua imagem e atuação - fato comprovado por diversas pesquisas de opinião que mostram o reconhecimento da população à marca e a rejeição à privatização - o projeto de venda de seus ativos está mantido, tendo sido anunciado o IPO da Caixa Seguridade. A pretensão do governo é fazer o mesmo nas áreas de cartões, loterias, títulos e valores imobiliários e banco digital. E para legalizar e agilizar esse processo enviou ao Congresso a Medida Provisória 995.
Como ex-presidentes da Caixa e atentos à atual crise sanitária, econômica e política pela qual passa o Brasil, entendemos que o papel do Estado nesse cenário é central na administração de políticas nacionais eficazes e na supervisão dos mercados financeiros e, para cumprir tal função, a atuação de bancos públicos é fundamental. Os investimentos estatais são fatores de estabilização econômica, do nível de emprego e da renda, na medida em que, por não obedecerem apenas à lógica de mercado, asseguram um mínimo de expansão da demanda agregada, atuando como instrumento de políticas anticíclicas.
_Portanto, uma Caixa pública, íntegra e sustentável deve ser premissa para qualquer ação governamental que vise superar o atual momento do País. Seu fortalecimento garantirá às futuras gerações a segurança de continuar contando com uma empresa pública presente em todo território nacional, participando de políticas sociais de combate à pobreza e à desigualdade e capaz de contribuir para a superação da grave crise que ora vivemos no Brasil. _
Com essa convicção, firmamos o presente documento.
25 de agosto de 2020
Assinam os ex-presidentes da Caixa
Danilo de Castro (1992/1994)
Jorge Mattoso (2003/2006)
Maria Fernanda Coelho – (2006/2011)
Jorge Hereda – (2011/2015)
Miriam Belchior – (2015/2016)
Gilberto Occhi – (2016/2018)
Fonte: Mídias socias de Rita Serrano