Governo quer vender prédio do Banco do Brasil a dez dias da posse de Lula
A pretexto de cortar custos e modernizar instalações, a diretoria atual do Banco do Brasil pretende vender o mais importante prédio da instituição no Rio de Janeiro, situado na Rua Senador Dantas, e conhecido como Sedan. A transação está prevista para acontecer, através de leilão, no dia 20 de dezembro, a 10 dias da posse do novo governo.
Segundo edital divulgado em 28 de novembro último, portanto, após o resultado das eleições, o preço mínimo é de R$ 311 milhões. Outra informação que causa estranheza é o valor de avaliação do imóvel que, no edital, consta como zero.
“Falta transparência neste negócio que está sendo tocado às pressas e requer comprovações sérias de que não provocará danos ao Banco do Brasil. Estranhamos que a venda aconteça já no apagar das luzes deste governo e às vésperas do Natal, quando as atenções estarão voltadas para as festas de fim de ano”, criticou a diretora do Sindicato e membro da Comissão de Empresa dos Funcionários (CEBB), Rita Mota.
BTG Pactual envolvido
A transação levanta ainda mais suspeitas porque beneficia o BTG Pactual, banco de estreitas ligações com o ministro da Economia, Paulo Guedes, um de seus fundadores. O BTG e a BR Properties são proprietários do Condomínio Ventura Corporate, onde passariam a funcionar as dependências do Sedan e também da BB Asset Manegement (ex-BBTVM). O imóvel considerado como ‘de alto padrão’ foi alugado pelo BB em 28 de junho de 2021, meses após a decisão de vender o prédio da Senador Dantas.
O Ventura pertencia à Projeto Rio Empreendimentos e tem cerca de 43 mil metros quadrados de área para locação. Foi comprado pelo BTG e pela BR Properties por R$ 680 milhões.
O BTG Pactual está envolvido em outra transação suspeita com o BB, tendo comprado por R$ 371 milhões a carteira de créditos de devedores inadimplentes do banco público de R$ 2,9 bilhões. A transação passou a ser investigada pelo Ministério Público do Tribunal de Contas da União e pela Controladoria-Geral da União.
A equipe de auditoria da CGU afirmou que a pesquisa de mercado feita pelo banco para justificar a entrega da carteira não foi abrangente o bastante, por ter apresentado apenas uma relação de instituições que atuam no mercado e arquivos do tipo “PowerPoint” com material sobre a operação.
Questionamentos
A possibilidade da venda do Sedan começou a ser ventilada em 2019, sendo aprovada em 2020. Em documento enviado em 13 de outubro daquele ano ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) – hoje participante do governo de transição – questionou o negócio por entender ser antieconômico. Guedes se esquivou, mesmo sendo o BB subordinado à pasta que comanda, não respondeu, passando a função para a diretoria do BB que encaminhou as respostas à Secretaria da Mesa da Câmara dos Deputados.
O ofício dá a entender que a decisão coube apenas ao banco, e não respondeu objetivamente aos questionamentos da parlamentar. Perguntado sobre a justificativa técnica e econômica para a venda do Sedan e posterior locação do prédio do Ventura, a diretoria do BB respondeu genericamente fazer parte do programa FlexyBB que visa a adoção de um ‘novo padrão’ de ocupação. E que envolveria o ‘indicativo’ de desocupação de 19 prédios, sendo 12 locados e 12 próprios, com economia de R$ 1, 7 bilhão em 12 anos.
Sem apresentar estudos, disse que o Sedan apresentava um custo alto de manutenção de suas instalações “obsoletas’ o que leva à necessidade de reformas estruturais de elevado aporte de investimento fixo. Alegou que as instalações do prédio eram superiores às necessidades de ocupação pelas ‘unidades estratégicas e táticas do Banco do Brasil localizadas no Rio de Janeiro’.
O documento não apresentou números, mas acrescentou que ‘as locações já vistas’ representam ‘custos mensais inferiores aos de permanência no Sedan’. Negou que a diretoria do BB já tivesse escolhido o prédio do Ventura Corporate. “Até o momento não há qualquer contrato firmado para a ocupação do Ventura Corporate ou qualquer outro imóvel”, afirmou a diretoria no ofício encaminhado à deputada.
Negócio nebuloso
Também não respondeu à pergunta relativa aos custos mensais do Sedan e os custos de uma locação. Da mesma forma, o documento não respondeu ao questionamento de Gleisi Hoffmann cobrando explicações sobre a escolha de um imóvel do BTG Pactual, ‘de reconhecida vinculação com o atual ministro da Economia, para a locação”.
O ofício diz textualmente: “O procedimento técnico é rigorosamente o mesmo utilizado para a prospecção e negociação de grandes espaços corporativos para o BB, onde são consultadas as grandes empresas atuantes no mercado imobiliário corporativo local, nesse caso no Rio de Janeiro”.
Respostas evasivas
“O que fica claro é que o documento é evasivo, generaliza as respostas, sem qualquer citação de estudos comparativos entre as opções de manter o funcionamento no Sedan e fazer o aluguel”, criticou Rita Mora.
Acrescentou que a diretoria do BB tem a obrigação de comprovar que o negócio não trará prejuízo ao banco público. “Uma decisão desta monta não pode ser tomada sem estudos sérios, ainda mais por se tratar de um bem público. Tudo isto parece muito estranho, o que só se agrava ao se saber do envolvimento do BTG no negócio”, acrescentou.
Leilão não aconteceria no Rio
O Sedan foi colocado à venda em 28 de novembro deste ano. As propostas de compra poderão ser feitas até 20 de dezembro, a dez dias da posse do novo governo. Curiosamente, o leilão ocorrerá em São Paulo, na Leiloeira Carla Sobreira Uminom.
Erguido em 1985, o Sedan tem 45 andares, sendo um dos mais altos do Rio de Janeiro. A área construída total é de mais de 60 mil metros quadrados. Além disso, conta com 16 elevadores e 30 pavimentos e garagem, num total de 264 vagas. No topo dos seus 146 metros de altura, o Sedan também possui um heliponto.
É muito bem localizado, em uma das áreas mais movimentadas da região central do Rio, próximo da Lapa, do Aeroporto Santos Dumont, do Porto Maravilha e das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, as principais da região. Pelas janelas de suas salas em andares mais altos, é possível avistar o Pão de Açúcar, a Baía de Guanabara e a Ponte Rio-Niterói, ícones da paisagem carioca.
Fonte: Seeb-Rio de Janeiro