Banco do Brasil

16 de Novembro de 2021 às 11:31

Banco do Brasil em São Paulo trata como lixo gerentes heróis na pandemia

Gerente regional na cidade de São Paulo culpa gerentes de conta pelos resultados

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região vem recebendo denúncias de bancários do Banco do Brasil que foram vítimas de assédio moral na região Sul da área de varejo da cidade de São Paulo. Em um áudio gravado de uma videoconferência obtido pela entidade, o gerente regional culpa os gerentes de conta pelos resultados.

De forma claramente ameaçadora e misógina, o gerente regional da região declarou, conforme áudio gravado na videoconferência: “Nós colocamos uma mulher de fora [da equipe], então está muito claro que, se a carteira não está batendo [meta], é o profissional que não está performando”.

“Já existe o Conexão [sistema de métrica das metas] que faz cobrança, então não precisa de bedel para ficar reforçando a cobrança e assediando. E além disso, se a carteira não está batendo meta, por que o gerente regional e alguns gerentes gerais não vestem a camisa da empresa e ajudam a equipe?”, questiona João Fukunaga, diretor executivo do Sindicato e coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB).

Como há várias denúncias de agências da região sul de São Paulo, inclusive recepcionadas pela Ouvidoria Interna do BB, o Sindicato avalia que a Superintendência Estadual não tem feito o devido esforço para resolver o problema de assédio. Inclusive entende que a forma de gestão tem, na verdade, estimulado essa forma não desejada de liderança.

“Se os funcionários adoecem, é por causa dessa visão escravocrata, pois os manuais de administração atuais falam de trabalho em equipe. No fundo, às vezes alguns gerentes gerais são apenas office-boy do regional, que ficam ‘administrando’ ao invés de vestir a camisa”, complementa Fukunaga.

Mais clientes e menos funcionários

“Motivar, cooperar, estimular e, enfim, liderar, na acepção correta da palavra, é o que um verdadeiro gestor deveria fazer para consertar as besteiras administrativas que levaram o banco a fechar mais de 7 mil postos de trabalho em 12 meses, por meio de reestruturação atrás de reestruturação”, afirma Getúlio Maciel, representante da Comissão de Empresa BB e dirigente sindical do Fetec-CUT/SP

“Além disso, ainda estamos em um momento em que muitos funcionários do grupo de risco continuam em casa por causa da pandemia, que ainda não acabou, o que também afeta na realização de negócios. Tudo isso deveria ser levado em conta pelo gestor, ao invés de assediar moralmente por resultados sua equipe em uma videoconferência, quando a sobrecarga de trabalho só aumenta por causa do encolhimento do banco promovido pelo governo Bolsonaro”, acrescenta o dirigente.

Ao final de setembro de 2021, o BB contava com 85.069 funcionários, 7.037 postos de trabalho a menos que em setembro de 2020. No terceiro trimestre de 2016, o BB tinha 64,69 milhões de clientes, número que aumentou para os atuais 76,8 milhões. Um crescimento de 19%. A quantidade de trabalhadores, por sua vez, foi reduzida em 22% no mesmo período, passando de 109 mil para 85 mil. Os dados são dos Demonstrativos de Resultados do próprio BB.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região mantém a campanha Menos Metas, Mais Saúde, e pressiona o Bradesco e demais bancos, nas redes sociais e nas ruas, para que promovam um ambiente de trabalho mais saudável por meio da diminuição das metas e da ampliação das contratações.

‘Choro quase todo dia’

Gerentes de contas PF e PJ relatam que o clima atual na instituição financeira está causando muito sofrimento. “Olha, eu estou vendo muito gerente se sentindo um lixo por essas coisas. Eu estou medicada, gastando R$ 400 por mês com remédio e choro quase todo dia. Tem muita gente assim que não fala nada. Aí o banco vem com esse programa de saúde mental como se ajudasse alguma coisa”, desabafa uma bancária.

“E se o banco lança um programa de saúde mental desses, é porque reconhece que os bancários estão adoecidos. E aí ocorrem reuniões como essas, carregadas de assédio moral, nas quais os gerentes de contas acabam se sentindo incapazes, alguns saíram de licença e acabaram descomissionados, tudo isso porque o superintendente não saiu bem na foto, no evento de premiação dos resultados. Ou porque o regional quer ganhar seu PDG e trocar de carro todo ano, e não consegue entregar resultados satisfatórios”, afirma Fukunaga.

“Sendo que na verdade todos os gerentes e funcionários agiram como heróis durante a pior fase da pandemia. Se arriscaram para atender a população e manter o sistema quando o país registrava mais de mil mortes por dia, quando não havia perspectiva de vacina, e quando o banco perdeu milhares de postos de trabalho. E agora, depois de tudo isso, são tratados como lixo pelo gerente regional”, acrescenta o dirigente.

Denúncias ao Ministério Público do Trabalho

Para Fukunaga, o áudio e o relato dos bancários provam que existem dois Bancos do Brasil: o do Fausto Ribeiro, onde tudo é lindo e maravilhoso, e no qual ele se preocupa com os funcionários, e a realidade, onde os funcionários são massacrados com metas abusivas, assédio moral, adoecimento e descomissionamento.

As denúncias que chegaram ao Sindicato serão levadas ao Ministério Público do Trabalho, na próxima reunião entre o órgão, as entidades que representam os trabalhadores e o banco. E os bancários devem denunciar os casos de assédio moral, por meio do canal de assédio moral da entidade. O sigilo é absoluto.

Fonte: Contraf-CUT - Texto do site do sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.



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