Bamerindus foi quebrado pelos boatos, acusa Vieira
Após sete meses sem se reunir, a subcomissão formada pelo Senado para tratar das liquidações de bancos (Caelif) retomou ontem os seus trabalhos, para ouvir o ex-senador José Eduardo de Andrade Vieira. O controlador do antigo Bamerindus, hoje em liquidação, disse que bastaria o Banco Central ter feito um empréstimo de R$ 400 milhões, nove meses antes, para evitar que a instituição financeira entrasse na crise de liquidez que culminou no processo de intervenção, em março de 1997. "O Bamerindus não quebrou, foi quebrado", disse ele, ao defender que a origem do problema não foi nenhum rombo patrimonial, como justificou o Banco Central, e sim a disseminação de rumores questionando a saúde financeira do banco. Na sua visão, a falta de confiança gerada por esses boatos e a omissão do BC em desmenti-los estimularam a fuga de investidores e correntistas, tornando real um problema que antes não existia. "A falta de atitude (das autoridades monetárias da época) no sentido de coibir e encerrar tais comentários acabou por de fato atingindo nossa credibilidade perante o mercado, determinando a exaustão de nossa liquidez imediata." Segundo o ex-senador, os rumores que quebraram o Bamerindus começaram 21 meses antes de decretada a intervenção - transformada posteriormente em liquidação. Ainda assim, defendeu, um socorro financeiro do BC teria vindo a tempo de evitar a quebra se fosse dado nove meses antes. Somente nos 18 meses que se transcorreram, de julho de 1995 a dezembro de 1996, os rumores teriam levado o banco a perder liquidamente R$ 4,8 bilhões em depósitos. O ex-senador reclamou que, em vez de socorrer o Bamerindus com o dinheiro mais barato de suas linhas de redesconto, o BC empurrou o banco para o mercado interbancário de curto prazo, onde os juros são bem mais altos. A Caixa Econômica Federal é que passou a financiar a instituição privada no interbancário, cobrando taxas de marcado. "Evidentemente, tornou-se insuportável, crucificante", afirmou Vieira aos senadores. Ainda conforme Vieira, a demora no socorro acabou saindo mais cara, pois, com a intervenção, o Bamerindus recebeu R$ 3 bilhões para poder transferir, à revelia dos controladores, suas atividades bancárias, passivos e ativos ao banco HSBC. Vieira aproveitou a audiência da subcomissão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para reiterar uma série de acusações, até hoje não provadas, contra dirigentes e liquidantes do BC. Uma das mais graves é a de que teria havido "conluio" para beneficiar o HSBC, instituição estrangeira que só entrou forte no mercado brasileiro porque ficou com toda a rede de agências e a clientela do Bamerindus. Ele ainda insinuou que o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan também teria feito parte desse "conluio". Dentro dos próximos dias, diversos ex-diretores e altos funcionários envolvidos no processo de intervenção e liquidação do Bamerindus também serão convocados pela Caelif para depor aos senadores. O requerimento de convocação foi aprovado na sessão de ontem.