Secretaria de Formação

19 de Outubro de 2006 às 00:00

Não menosprezem a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas)

Reunidos em Havana, nos últimos dias 27 e 28 de abril, Hugo Chávez e Fidel Castro firmaram um plano estratégico para o início da aplicação da Alba, plano destinado a garantir a mais benéfica complementação produtiva alicerçada na racionalidade, o aproveitamento de vantagens existentes numa e noutra parte, a economia de recursos, a ampliação do emprego útil, o acesso a mercados e outras considerações sustentadas numa verdadeira solidariedade que potencializem as forças de ambos os países. Frise-se de início que não se trata de um abraço de afogados. É evidente, não são potências econômicas, nem países de grande população e extensão territorial, embora, por exemplo, a atual balança comercial Venezuela-Cuba tenha atingido no ano passado 1,5 bilhão de dólares, enquanto as relações comerciais Brasil-Cuba mal chegaram a uma quinta parte desse montante. Contudo, a natureza do acordo, inédita na história das relações entre países, pode resultar em algo muito expressivo. A Alba é uma proposta de integração diferente. Ao passo que a Alca responde aos interesses do capital transnacional e persegue a liberalização absoluta de bens, serviços e inversões, a Alba põe ênfase na luta contra a pobreza e a exclusão social, e, portanto, expressa os interesses dos povos latino-americanos. A Alba se fundamenta na montagem de mecanismos para criar vantagens cooperativas que permitam compensar as assimetrias existentes entre os países do hemisfério. Baseia-se na cooperação de fundos compensatórios a fim de corrigir as disparidades. Por esta razão a proposta da Alba confere prioridade à integração latino-americana e à cooperação entre os blocos sub-regionais. Identificar espaços de interesse comum que permitam constituir alianças estratégicas e apresentar posições comuns no processo de negociação. Foram 49 os acordos firmados. Com o fim de demonstrar a natureza desse pacto vamos citar apenas alguns deles: foi inaugurado em Havana um escritório da Petróleos de Venezuela (Pdvsa) que tem como objetivo a extração, exploração, refino, importação, exportação e comercialização de hidrocarbonetos e seus derivados, bem como o transporte e armazenamento; Cuba será o entreposto para fornecimento desses produtos em todo o Caribe; foi inaugurada uma filial do Banco Industrial da Venezuela em Havana, de capital 100% venezuelano. Esta instituição estatal dará uma notável contribuição ao incremento sustentado das relações econômicas e comércio bilateral; Cuba emitiu uma resolução eximindo de pagamento de direitos aduaneiros as importações cuja origem seja a República Bolivariana da Venezuela; Cuba adquirirá a soma inicial de 412 milhões de dólares em produtos venezuelanos com fins produtivos bem como produtos de consumo social; será inaugurado no presente ano, na Venezuela, 600 centros de Diagnóstico Integral, 600 Salas de Reabilitação e Fisioterapia e 35 Centros de Alta Tecnologia que oferecerão serviços gratuitos de elevado nível profissional; formação na Venezuela de 40 mil médicos e 5 mil especialistas em Tecnologia da Saúde, dentro do programa Barrio Adentro [ Médico de Família] II; formação em Cuba de 10 mil estudantes saídos da Missão Ribas [acesso ao ensino médio de jovens pobres] na carreira de Medicina e Enfermaria, que estarão distribuídos em todas as policlínicas e hospitais do país e que terão como residência lares de famílias cubanas; Cuba continuará dando sua contribuição ao desenvolvimento do programa Barrio Adentro I e II, mediante o qual até 30 mil médicos e trabalhadores da saúde estarão prestando seus serviços já no final deste ano. Críticos da Alba – e nos referimos aos críticos de esquerda – adiantam que a Alba não dará certo porque não agrega. Dizem, ‘quem vai aderir a esse pacto formado logo por Cuba, e sua revolução, e a Venezuela, e sua revolução? Além do mais, o próprio nome, bolivariana, já é excludente. Bolívar não diz nada ao Brasil, Argentina, Uruguai, Chile ...’ À parte o argumento da denominação, pequeno, lembramos que a União Européia começou lá atrás, 1954, com o acordo do carvão e do aço, entre França e Alemanha. Mais importante, olhemos para o cenário latino-americano. Que países estão dispostos, abertos e preparados para a integração econômica, política e social? O Brasil de Lula, a Argentina de Kirchner, o Uruguai de Vázquez querem, mas sofrem constrangimentos internos, uma vez que o mercado financeiro e vastos setores empresariais internos, ecoados pelos meios de comunicação, não estão nem um pouco interessados nesse tipo de integração, haja vista os vai-e-vens em relação à Alca. O Chile de Lagos, o Peru de Toledo, a Colômbia de Uribe, o Paraguai de Nicanor, o México de Fox, nem pensar. Bolívia e Equador estão em polvorosa, a América Central ainda é fortemente submissa. Restam exatamente Cuba de Fidel e Venezuela de Chávez. A primeira porque é da sua natureza ideológica e necessita. A segunda porque está montada num processo em marcha nessa direção. O milhão de trabalhadores nas ruas de Caracas e o milhão e trezentos mil nas ruas de Havana no Primeiro de Maio, sem sorteio nem sertanejos, querem e aplaudem. Se a Alba começar a florescer, serão muitos milhões a gritar nas praças e campos da Nossa América ‘queremos provar do mesmo bocado’. Com que cara ficarão amanhã aqueles que hoje zombam? Por Max Altman, jornalista.



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