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1 de Janeiro de 2001 às 22:59

Salve a greve dos bancários! Salve, Salve!

Salve a greve dos bancários! Salve, Salve! Por que faço aqui essa exortação à greve dos bancários? – indagaria você, caro leitor. Sim, é legítima a indagação. Já que não sou bancário e sim apenas mais um cliente dos bancos que seria, portanto, prejudicado (pelo menos num primeiro instante, e em tese) com a paralisação dos serviços. Por que defender uma greve que “não me diz respeito” – será que não me/nos diz respeito mesmo? Uma greve que causa transtornos para todos – sim, causa, mas principalmente para os banqueiros que são intransigentes em atender às justas reivindicações dos trabalhadores. Porque nesses tempos de individualismo, o sindicalismo e os sindicatos andam absolutamente desprestigiados e desvalorizados, e é preciso que lhes sejam devolvidos o prestígio e o valor devidos. Porque, nesses tempos de um hegemônico e dogmático capitalismo financeiro globalitário, nesses tempos de gestores (tanto públicos como privados) forjados no mais ortodoxo “economicismo”, o chamado “capital humano” é, cada dia mais, deixado em segundo plano, deixado de lado e utilizado como bucha de canhão. Ou seja: somos todos, não só os bancários, tratados como “bucha de canhão”. Porque o sindicalismo aproxima-nos de valores também desprestigiados e desvalorizados tais como justiça, igualdade, solidariedade e fraternidade. Remete-nos a um tempo perdido em que os homens uniam-se e lutavam por uma causa comum. Ainda se lembra disso? Os mais jovens, estou certo, desconhecem valores e causas assim. Professores, perguntem aos seus alunos, peçam-lhes que definam o que vem a ser justiça, igualdade, solidariedade e fraternidade. Mas não lhes peçam para procurar conceitos em dicionários ou enciclopédias, peçam-lhes que procurem na vida. Façam o teste para constatar: são valores perdidos, de um tempo remoto. Porque cansei de assistir, com meu silêncio e egoísmo cúmplices, a decadência de tantos sindicatos. Por que cansei de ver assembléias esvaziadas, sinal inequívoco da cada vez mais baixa representatividade dessas associações de classe. As assembléias estão vazias porque os homens estão vazios; porque o individualismo domina hoje todas as ações; porque estamos todos dominados pelo medo. Não, caro leitor. Não quero dizer com isso que todos os sindicatos e que todos os sindicalistas são bons, que são “os puros”, que são o “sal da terra”. Não é isso. Sei que existe muito corporativismo barato. Sei que existem centenas de pequenos “sindicatos-cartórios” por aí (meros batedores de carimbo e homologadores de rescisões), e existem até mesmo os chamados “sindicatos do crime” (ver o filme Sindicato de Ladrões, com Marlon Brando). Mas esses não representam, pelo menos não ainda, a maioria. A maioria dos sindicatos, quando têm a participação de seus associados, claro, e quando seus representados freqüentam efetivamente o sindicato, são sindicatos de lutas, que visam realmente à melhoria dos salários e das condições de trabalho dos seus associados, dentre outras nobres reivindicações. Mas, não tenha dúvida, se os sindicatos continuarem desprestigiados como estão, em poucos anos só restarão “sindicatos-cartórios” e “sindicatos do crime”. Apóio a greve dos bancários porque estou cansado de ficar horas a fio nas quilométricas filas dos caixas e de pagar por tarifas cada vez mais caras – ao passo que meu dinheiro, sob a guarda dos bancos, é remunerado com taxas cada vez mais baixas. Não sei se você, caro leitor, já enfrentou as filas de bancos como Bradesco, CEF, Banco do Brasil e Itaú – só para citar os principais, só para citar dois da União e dois privados, que mais lucram. É algo desumano! Algo que avilta a dignidade humana! Apóio a greve dos bancários porque a precarização das condições de trabalho nas agências bancárias é algo que salta aos olhos. Cada vez mais, principalmente na CEF e BB, mas também nos grandes bancos privados, demitem-se funcionários qualificados e experientes que são logo substituídos por estagiários ou trainees que, por definição, são inexperientes e despreparados. Não precisa ser sindicalista ou bancário para perceber isso, basta ser cliente ou usuário dos serviços desses bancos. Um descalabro. Por isso tudo, pela melhoria dos serviços bancários e das condições de trabalho nas agências, sou um entusiasmado defensor da greve dos bancários. Estou cansado de ler nos jornais, ano após ano, apenas notícias referentes aos seguidos recordes de aumento da lucratividade dos bancos. É hora de dividir com a sociedade uma parte ínfima desses lucros. Com os trabalhadores e também conosco, os usuários, através de melhores serviços. Portanto, sejamos solidários à causa dos bancários. E se, no momento em que você lê essa crônica, os bancários já deram por encerrada a sua greve, não tem problema. Procure saber se eles obtiveram bons resultados nas suas negociações, na sua luta - seja solidário! Vamos reivindicar junto aos bancos, e junto com eles bancários, que se contrate mais funcionários para que, assim, as agências melhorem os serviços que nos prestam. Vamos cobrar que a tal lei dos 15 minutos seja de fato cumprida. E se os bancários avançaram em suas conquistas através dessa greve, que bom. Um viva à greve dos bancários pois! Por Lula Miranda - colunista da Agência Carta Maior



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