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1 de Janeiro de 2001 às 22:59

“Não adianta só crescer sem repartir o bolo”, diz Vagner Freitas

Vagner Freitas, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), em entrevista à Revista dos Bancários, faz uma avaliação da reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, o momento é de os movimentos sociais se mobilizarem para a disputa de hegemonia no governo, para trazer o segundo mandato para mais perto dos interesses dos trabalhadores. Isso inclui crescimento econômico e distribuição de renda. Confira um trecho da entrevista (a íntegra será publicada na revista). Revista – Qual a avaliação do resultado das eleições, com a vitória do presidente Lula? Vagner – Com a autoridade política da eleição do presidente Lula, com mais de 58 milhões de votos, ele poderá ser um grande condutor para a unificação em torno de um projeto nacional de desenvolvimento. O processo eleitoral é normalmente tenso, mas a eleição já acabou. O Brasil precisa procurar caminhos. Se o primeiro governo do Lula foi bom, agora precisamos continuar pavimentando o caminho do crescimento, da transformação social, da redistribuição de renda. E o Lula precisa capitanear os setores progressistas da sociedade, os trabalhadores organizados e não-organizados, o empresariado, da sociedade civil, os intelectuais num grande esforço de projeto de desenvolvimento. Nesse ponto foi muito importante a vitória no segundo turno, com a margem de votos que ele obteve, para sepultar definitivamente os resquícios de atraso da candidatura Alckmin. Quem a assinalou bem foi a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, em que ela fala que o candidato tucano representava uma visão udenista-lacerdista-golpista, neoliberal, preconceituosa dos Bornhausen da vida, que queriam acabar com a raça do PT e do povo brasileiro. As urnas deram uma resposta categórica para esse tipo de visão atrasada de organização da sociedade. De agora em diante Lula deve liderar esse grande esforço, já que ele tem autoridade política para isso, de pessoas que pensam um projeto para o país que tenha em comum o respeito pela democracia, pela soberania nacional, por um projeto nacional desenvolvimentista, que não sejam neoliberais nem professem o credo do Estado mínimo, da retirada de direitos etc. Enfim, que façam o contraponto ao Estado fraco, que não provenha o equilíbrio dos vários interesses que existem na sociedade brasileira. Nossa expectativa é que, no segundo governo Lula, sem desprezar o crescimento e as melhoras que já ocorreram, ampliemos a justiça social num grande projeto entendimento nacional. Esse projeto não será feito só com um setor da sociedade, é necessária uma unidade. E o elo que unifica é o Lula, que teve votos nos setores empresariais e dos trabalhadores, no campo e na cidade, nas grandes e pequenas cidades, mesmo contra toda perseguição da grande mídia, que em sua maioria acolheu o projeto que representava o atraso. Agora é a chance de um salto, de transformação, por meio de um governo que tenha um projeto de desenvolvimento nacional, e Lula tem de capitanear isso com quem quiser ajudá-lo, e nós estamos dispostos a fazê-lo. Revista – O primeiro governo Lula foi muito preocupado com a estabilidade econômica, qual o papel agora dos movimentos sociais, dos trabalhadores, da Contraf-CUT, da CUT, para puxar o novo governo mais para os interesses dos trabalhadores? Vagner – Em qualquer governo existe disputa de hegemonia. Quando falo em entendimento não me refiro à passividade bovina. Os movimentos sociais precisam colocar suas reivindicações nas ruas desde já, entregar ao presidente da República, por meio da CUT, uma plataforma, um projeto de interesse da classe trabalhadora, com aquilo que julgamos importante e que não foi feito no primeiro mandato. A política econômica pode ter tido seus méritos no controle da inflação no momento difícil em que o país foi deixado no final do governo FHC, mas foi conservadora ao não propiciar mais crescimento da economia. Temos de expandir empregos e oportunidades, apresentar nossas reivindicações e mobilizar os trabalhadores para não permitir que setores conservadores acabem dando o tom do governo, como aconteceu muitas vezes. Precisamos de crescimento, mas sem esquecer a redistribuição de renda. Não adianta só crescer sem repartir o bolo.



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