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1 de Janeiro de 2001 às 22:59

Lula é reeleito com vitória expressiva

(Brasília) Eram 19h30 deste domingo, quando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio de Melo, proclamou o resultado, confirmando a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Doze minutos antes, com quase 90% dos votos totalizados, Lula havia alcançado uma vantagem de 19.835.142 votos sobre o adversário Geraldo Alckmin, do PSDB. Mas restavam apenas 16 milhões e 75 mil votos de um universo de 125 milhões para serem contabilizados. Não havia mais possibilidade matemática de alteração do vencedor. “Os votos que ainda faltam para serem totalizados não cobrem a diferença entre o primeiro e segundo colocados, o que implica dizer que o presidente Lula está reeleito”, anunciou o presidente do TSE, surpreso com a velocidade da apuração, que antecipou em 2h30 as previsões mais otimistas. A vitória foi incontestável. Com mais de 58 milhões 295 mil votos. A terceira maior votação de um candidato a presidente na história da democracia. Perdendo apenas para os dois que disputaram as eleições norte-americanas de 2004 (George W. Bush teve mais de 62 milhões e John Kerry mais de 59 milhões). Além disso, a diferença para o desafiante tucano Geraldo Alckmin ficou acima de 20 milhões de votos. Com percentuais de sufrágios válidos equivalentes aos da eleição anterior: 60,83% nesta e 61,27% na disputa de 2002 contra o tucano José Serra. Isso, com toda a fadiga de 4 anos de governo e muitos escândalos para administrar. Lula venceu Alckmin em 20 estados. O tucano só conseguiu superar o presidente nos três estados da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), em São Paulo, no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e em Roraima, onde teve o melhor desempenho proporcional. No Nordeste, o presidente abriu uma vantagem acima de 13 milhões de votos, obtendo mais de 77%, contra 23% de Alckmin. Em estados como Amazonas e Maranhão, Lula teve cerca de 85% dos votos válidos. Mesmo nos estados onde perdeu para o candidato tucano, Lula conseguiu reduzir a diferença do primeiro turno (virou em Goiás, Rondônia, Acre e no Distrito Federal). Com isso, Alckmin teve 2,4 milhões de votos a menos que a votação obtida por ele no primeiro turno. “A diferença maior de votos resulta em legitimidade para o candidato eleito”, reconheceu o presidente do TSE, observando que a vontade dos eleitores deve prevalecer, tem em vista que todo poder emana do povo e é transferido aos seus representantes. “O povo brasileiro quis a reeleição do presidente da República”, constatou Marco Aurélio. Legitimidade Questionado sobre o fato de haver uma pendência de julgamento do pedido de cassação da candidatura do presidente em decorrência do flagrante de tentativa de compra de um dossiê por petistas ligados ao comando da campanha de reeleição para prejudicar candidatos tucanos, o presidente do TSE disse que isso é normal em eleições desde que se integrou ao Judiciário. Reconhecendo que o resultado do pleito estará sub judice até que a representação seja julgada, Marco Aurélio afastou, no entanto, as especulações sobre um terceiro turno da eleição disputado nos tribunais. “Aí não cabe a especulação para se dizer que talvez tenhamos um terceiro turno. Está na Constituição o princípio da não-culpabilidade. A culpa tem que ser comprovada de forma robusta, irretorquível, inafastável (sic)”, advertiu o ministro. “Não vamos precipitar as coisas, vamos observar a ordem natural”, completou, indicando que o julgamento do caso do dossiê não deverá alterar o resultado da eleição, que terminou em clima mais conciliador e cordial, diferente da guerra travada ao longo da campanha. Isso acabou se refletindo no próprio comportamento dos eleitores e militantes no segundo turno da eleição, que foi relativamente tranqüilo. De acordo com relatório do TSE, em todo o país foram registradas prisões de 441 pessoas. Menos da metade das ocorrências do primeiro turno. A maior parte por desobediência da proibição para propaganda de boca de urna. Mais da metade dos incidentes ocorreram onde a disputa foi mais acirrada entre os candidatos aos governos estaduais: 42 na Paraíba, 44 no Rio Grande do Norte, 58 no Pará e 87 no Paraná. A disputa nos estados foi duríssima e a apuração emocionante. Diferente do que ocorreu na apuração dos votos para presidente da República. Em sete dos 10 estados onde houve segundo turno, o candidato derrotado teve mais de 45% dos votos, mostrando o quanto o eleitorado está dividido em boa parte do país. Só tiveram uma vitória tranqüila o governador de Goiás, Alcides Rodrigues (PP), o ex-ministro Eduardo Campos (PSB), em Pernambuco, e o senador Sérgio Cabral (PMDB), no Rio de Janeiro, campeão de votos no segundo turno. Teve 68% dos votos válidos, alcançando uma vantagem de 2,7 milhões de votos sobre a oponente, deputada Denise Frossard (PPS), em um universo de 9 milhões de votantes. Disputas acirradas O ex-prefeito de São Luís, Jackson Lago (PDT) venceu a ex-governadora Roseana Sarney (PFL), no Maranhão, por uma diferença de 100 mil votos, em um total de quase 3 milhões de eleitores que foram às urnas no segundo turno. Embora ela tivesse o apoio do presidente Lula, que retribuiu sua lealdade ao longo do primeiro mandato, Lago sempre foi um aliado do PT na luta para desbancar a oligarquia Sarney do poder estadual. No Pará, o PT conquistou o quinto governo estadual, com a senadora Ana Julia Carepa, que relutou muito para ser candidata e acabou derrotando o ex-governador Almir Gabriel (PSDB), um cardeal do tucanato, por uma diferença de 300 mil votos em mais de 3,1 milhões. Vilma Faria (PSB) foi reeleita governadora do Rio Grande do Norte, vencendo o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB) por uma diferença de 75 mil votos, em um total de 1,7 milhão. A deputada Yeda Crusius (PSDB) venceu o ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro Olívio Dutra (PT) por cerca de 500 mil votos em 6,5 milhões de votantes. O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), também foi reeleito, mas passou um aperto com o rival, o ex-governador Esperidião Amim (PP), que teve 170 mil votos a menos em um universo de 3,5 milhões, diferença bem menor do que indicavam as pesquisas da véspera. Na Paraíba, o governador Cássio Cunha Lima (PSDB) foi reeleito com uma vantagem de pouco mais de 50 mil votos sobre o ex-governador José Maranhão (PMDB), em um universo de 2,1 milhões de votantes. Foi a segunda disputa mais apertada do país. A mais emocionante foi a que resultou na reeleição do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB) por uma diferença de 10.479 votos sobre o senador Osmar Dias (PDT), em um total de 5 milhões 870 mil sufrágios. Dias permaneceu à frente de Requião ao longo das duas primeiras horas de apuração. Às 19 horas, os dois ficaram praticamente empatados, com pouco mais de 2 milhões 633 mil votos cada. Onde minutos depois, Requião virou o resultado, quando faltavam apenas 325 urnas para serem apuradas, pouco mais de 1% do total. Equilíbrio de forças Com esses resultados, ficou mantido o equilíbrio de forças estaduais indicado no primeiro turno. O PMDB foi o partido que conseguiu eleger mais governadores. São sete: SC, PR, RJ, ES, MS, TO e AM. O PSDB elegeu seis: RS, SP, MG, RR, AL e PB. Somado ao governo do aliado PFL no Distrito Federal, mantém um bloco importante de governadores da oposição, especialmente pela importância econômica e política dos estados que irão governar. O PT elegeu congo governadores: BA, SE, PI, AC e PA. Somados aos estados que serão governados pelo tradicional aliado PSB (PE, CE e RN), formam uma base forte nas regiões mais pobres do país. Completam o quadro os dois governos do PPS (MT e RO), os dois do PDT (MA e AP) e o do PP (GO). A composição, no entanto, é bastante favorável ao presidente Lula, que conseguiu construir ao longo da campanha uma cumplicidade com os caciques regionais do PMDB, especialmente das Regiões Norte e Nordeste. Com isso, ele contabiliza a vitória de 16 governadores que apoiou e a solidariedade de grupos derrotados a quem tentou ajudar, como os dos senadores Maguito Vilela (PMDB-GO), José Maranhão (PMDB-PB) e Roseana Sarney, que poderá trocar o PFL pelo PMDB de seu pai, José Sarney. Além disso, tem um bom diálogo com a maior parte dos governadores eleitos que apoiaram Alckmin, como os tucanos José Serra (SP), Aécio Neves (MG) e Cássio Cunha Lima (PB) e o peemedebista Luiz Henrique (SC). A legitimidade da vitória incontestável, uma correlação de forças favorável no colegiado de governadores, a disposição de diálogo manifestada por setores importantes da oposição e a equação econômica sem turbulências à vista são fatores muito positivos, que colocam o presidente Lula diante de um cenário político mais favorável que o encontrado quando assumiu o primeiro mandato. Ele assegura que aprendeu com seus erros e acertos e, por isso, terá melhores condições de assegurar a governabilidade e montar um governo melhor do que o primeiro. No primeiro pronunciamento após a proclamação da vitória, deu um sinal positivo dessa disposição. Se dispôs a responder perguntas da imprensa no ato, além de anunciar uma entrevista coletiva melhor organizada nos próximos dias. O front de imprensa O relacionamento com a imprensa foi um dos principais problemas do governo Lula neste primeiro mandato. Desde o princípio, ele assumiu um comportamento arrogante de quem não deve satisfação a ninguém, apenas ao povo, com quem se comunicaria diretamente, por intermédio dos espaços nobres negociados com a emissora de maior audiência do país. O conselho do marqueteiro Duda Mendonça de que a única mídia que importava era o Jornal Nacional da TV Globo foi seguido à risca nos dias que sucederam a vitória de 2002. Na noite do segundo turno daquela eleição, falou com exclusividade para o Fantástico. No dia seguinte, fez apenas um pronunciamento à imprensa, frustrando mais de 100 jornalistas, inclusive da imprensa estrangeira, que queriam saber os planos do presidente operário para o país, já que ele era um fenômeno que despertava curiosidade no mundo todo. Nada de entrevistas para a imprensa em geral, mas tratamento privilegiado para a Globo. Na noite de segunda-feira, o presidente eleito tornou-se comentarista do Jornal Nacional, acompanhando toda a edição ao lado dos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes. Alguns jornalistas da Globo ficaram felizes, mas os outros 99% da imprensa brasileira e estrangeira começaram a cobrir o governo Lula com um mal humor que só piorou ao longo do tempo. Depois de tomar posse, ele visitou cada sala do Palácio do Planalto para falar com cada pessoa que trabalhava ali, inclusive a cozinha. Mas só foi conhecer o Comitê de Imprensa quase dois anos depois. Não é por acaso que no Mural do Comitê ainda esteja pregada até hoje uma foto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua subsecretária de Imprensa, Ana Tavares, com os repórteres destacados para fazer a cobertura da Presidência da República. É como se quisessem dizer a todos que passam por ali: “essa é do tempo em que éramos felizes e não sabíamos”.



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