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1 de Janeiro de 2001 às 22:59

Entenda o porque da "Crise Financeira"

As fortes e violentas turbulências verificadas nos mercados do mundo explicitam uma crise financeira, monetária e econômica de graves proporções. Iniciada na área do mercado de hipotecas1 nos EUA, a crise se alastra rapidamente por todo o setor financeiro da economia norte-americana e do mundo. De janeiro a setembro de 2008, estima-se uma desvalorização de ativos da ordem de mais de US$ 14 trilhões. A estimativa de perdas em 12 meses, incluindo a dramática semana de 06 a 10 de outubro deste ano, é de cerca de US$ 27 trilhões2. No mesmo período, os bancos internacionais registram perdas contábeis de mais de US$ 500 bilhões. Como a crise ainda está em curso, deve-se alertar para o fato de que as projeções dos seus impactos efetivos sobre os países, no momento, são tão especulativas quanto qualquer movimento financeiro que vem ocorrendo. Embora seja ainda muito difícil visualizar o final dessa turbulência, as perspectivas, no momento, são de uma crise bastante aguda, prolongada, e que está se generalizando para a economia real com bastante rapidez, trazendo impactos especialmente para áreas vinculadas ao comércio internacional e para as dependentes de crédito e financiamento. Portanto, é de se esperar que sejam afetados os fluxos comerciais entre os países, em geral, e os mercados de commodities, em particular. Além disso, quase todo o conjunto da economia deve sofrer algum abalo, uma vez que o mundo, tal como se apresenta nos últimos 25 anos, é o mundo da financeirização globalizada de quase todas as relações econômicas. As expectativas são de redução significativa das taxas de crescimento nos vários países e de recessão, que já se torna evidente em algumas regiões, como nos EUA, Japão e na área do euro. No caso da América Latina, em que pese a grande incerteza do cenário, é esperada forte diminuição do crescimento verificado nos anos recentes, embora ainda não haja previsões de recessão. Mais do que tudo, porém, é necessário perguntar se o que está ocorrendo representa o fim de um padrão de funcionamento da economia mundial. Esta Nota Técnica é a primeira sobre o conturbado quadro econômico atual, e nela, DIEESE traça um panorama geral dessa crise global. Uma segunda Nota, prevista para as próximas semanas, será dedicada a análise das possíveis conseqüências da crise para o Brasil. A deflagração: a crise das hipotecas. Desde o começo de agosto de 2007, o mundo financeiro internacional vem se agitando fortemente, com movimentos bruscos de subida e descida de índices e, especialmente, com a baixa acentuada do valor dos ativos financeiros. Nos primeiros 20 dias de agosto de 2007, falava-se de algumas centenas de bilhões de dólares norte-americanos que teriam “desaparecido” de uma hora para outra4, e de várias outras dezenas de bilhões colocados pelos diversos bancos centrais dos principais países do núcleo do capitalismo à disposição do sistema financeiro para tentar evitar o colapso do mercado. O empurrão na primeira peça do dominó desse mercado financeiro altamente interconectado partiu de onde já se esperava há muito tempo: de nova turbulência nos ativos vinculados ao fragilizado mercado de imóveis e hipotecas dos EUA. Parece incompleto, porém, atribuir a esta conhecida fragilidade toda a culpa da crise atual. Os alertas sobre a “bolha” especulativa no mercado imobiliário dos EUA vinham de longe, embora as perspectivas para a economia mundial fossem bastante otimistas. Esses alertas se tornaram mais freqüentes a partir de julho de 2006, quando, pela primeira vez desde que o ciclo expansivo imobiliário começou nos EUA, foram registradas quedas no valor dos imóveis naquele país. Fala-se agora em “crise dos subprime”, isto é, dos empréstimos feitos no mercado de imóveis aos tomadores de mais alto risco, que não oferecem segurança e garantias aos agentes financeiros. Nas classificações de risco nos EUA, prime seriam os empréstimos de menor risco, e subprime os de uma categoria mais arriscada, normalmente se referindo aos trabalhadores sem contrato efetivo de trabalho ou daqueles que não possuem valores que sirvam como garantias aos empréstimos. Entretanto, atribuir a crise apenas ao mercado imobiliário pode ser uma nova tentativa de circunscrever o problema a uma causa específica e localizada, evitando entendê-la como uma falha profunda de todo o sistema. Para entender a extensão desse problema é preciso perceber que os mecanismos de transmissão foram estabelecidos de tal forma que a primeira pedra do dominó financeiro empurrada induz a uma rápida difusão da crise. Com a aquisição do imóvel, o novo proprietário pode, sendo de alto ou de nenhum risco, obter crédito junto ao sistema financeiro usando agora o imóvel como garantia; ou seja, ao se tornar proprietário, o indivíduo tem acesso a um empréstimo bancário por meio de uma hipoteca. Contudo, pela generalização e expansão do próprio crédito imobiliário, o preço dos imóveis sobe permanentemente, o que leva a uma espiral de elevação do crédito: quanto maior o valor do imóvel, maior o volume de recursos que pode ser obtido junto ao sistema financeiro. E se o valor dos imóveis está 3 Baseado em DIEESE, Nota Técnica 48, Agosto de 2007, subindo, é possível “renovar” a hipoteca, conseguindo um novo crédito maior com base nessa valorização, para pagar a hipoteca anterior e conseguir mais recursos. Enquanto os preços dos imóveis sobem permanentemente, esse é um mecanismo que se alimenta dele mesmo. Até meados do ano passado, eles não apenas subiam ermanentemente, mas subiam também acentuadamente. Assim, boa parte da expansão do consumo nos EUA foi “animada” por esse mecanismo de expansão do crédito a partir da elevação do preço dos imóveis. Foi esse crescimento do consumo que motivou a expansão econômica recente, não apenas naquele país, mas em boa parte do mundo. Nos últimos anos, a economia dos EUA funcionou como uma espécie de “consumidor de última instância”, para a qual eram destinados produtos de muitos outros países, resultando, por exemplo, no dinamismo acentuado da economia chinesa, e explicando, assim, parte da alta do preço das principais commodities agrícolas e minerais exportadas pelo Brasil. De outro lado, as instituições financeiras que colocavam seus recursos à disposição dos que se endividavam no mercado de imóveis, especialmente nos empréstimos classificados como subprime, auferiam lucros extraordinários, porque no mercado financeiro, quanto maior o risco do tomador dos recursos, maior é a taxa dele cobrada. Já que esses lucros eram tão fantásticos (ainda que tivessem elevados riscos a ele associados), por que não “socializar” os lucros, ou pelo menos uma parte dele, com outros agentes do sistema financeiro (e ao mesmo tempo, dividir também possíveis prejuízos)? Para tanto, foram emitidos títulos que tornavam outros eventuais aplicadores (como os vários fundos financeiros, de investimento, de previdência, de rendas variáveis...) sócios daquele lucro fantástico, mas também de parte do risco. Isso funcionou como uma espécie de seguro para as instituições que fazem a operação, face ao crescimento do risco. Os bancos com créditos junto a compradores de imóveis “empacotavam” os títulos referentes a hipotecas junto com outros, de menor risco, e revendiam esses novos títulos no mercado financeiro internacional, com aval das agências de classificação de risco, que consideravam baixa a possibilidade de inadimplência desses “títulos empacotados”. Informação na integra ascesse no nosso link o site DIEESE e tecle "Nota Tecnica". Fonte Contraf



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